Resumo |
As linhas fisárias são responsáveis pelo alongamento ósseo, aquisição de estrutura esponjosa ou trabecular e acúmulo de massa óssea trabecular durante desenvolvimento ósseo que, em cães de grande porte, ocorre até 18 a 20 meses de idade. Fraturas Salter Harris tipo V ocorrem por compressão da linha fisária e, o tratamento deve ser precoce para impedir necrose e reabsorção óssea ou, consolidação precoce da placa epifisária resultando em deformidades de crescimento. Objetiva-se relatar uma paciente canina de um ano de idade, raça Pastor de Malinois, atendida no Hospital Veterinário da UFV, com histórico de claudicação de membros pélvicos há 5 meses, após trauma por queda de veículo em movimento. A paciente foi diagnosticada em outro estabelecimento com fratura de tíbia esquerda e tratada com repouso. Ao exame clínico observou-se claudicação de membros pélvicos e dor em articulação femoro-tibio-patelar bilateral. Ao exame radiográfico observou-se lise óssea em linhas fisárias proximais de tíbia, indicando necrose e reabsorção óssea, por instabilidade da fratura de Salter Harris tipo V bilateral. Avaliando-se as radiografias com intervalos de 15 a 30 dias, observou-se progressão da lise óssea. Recomendou-se repouso absoluto e agendou-se procedimento cirúrgico. O exame radiográfico prévio à cirurgia evidenciou evolução positiva em relação à lise e reabsorção óssea em linhas fisárias de tíbia direita. Optou-se por realizar epifisiodese em tíbia esquerda, por meio de inserção oblíqua de um parafuso cortical número 4 na porção crânioproximal da tíbia, com função neutra, no sentido craniocaudal. Coletou-se biópsia de fragmento ósseo no foco da fratura. Foi inserido 10mL de enxerto autógeno de medula óssea coletada de úmero esquerdo, nas linhas fisárias da região proximal da tíbia. Realizou-se redução do tecido subcutâneo com sutura padrão walking suture com fio poliglactina 910 2-0, sutura intradérmica zigue-zague com fio poliglecaprone 3-0 e dermorrafia com padrão de sutura simples interrompido fio nylon 3-0. O exame histopatológico evidenciou medula óssea com células inflamatórias, fibroblastos e osteoclastos, trabéculas desvitalizadas, favorecendo reparo/osteomielite. Quatro semanas após a cirurgia, o exame radiográfico evidenciou processo de união óssea e ausência de rejeição do implante. A paciente apresenta-se em ótimo estado geral, sem sinais de claudicação, crepitação ou algia nos membros. As fraturas de Salter-Harris são raras em tíbia proximal devido à anatomia da epífise proximal, inserção dos ligamentos colaterais distalmente à metáfise, protegendo a epífise. Uma vez que as falhas da fratura estejam preenchidas, a ossificação endocondral normal é concluída e a função fisária continua, portanto, o tratamento deve ser instituído para evitar necrose óssea ou fechamento precoce da placa de crescimento, e por consequência, o desenvolvimento de deformidades no crescimento e prejuízo na função motora do membro afetado. |