Resumo |
O escritor espanhol Javier Marías nasceu em 1951, em Madrid, e, antes de completar vinte anos, publicou seu primeiro romance, Los domínios del lobo (1971), que marcou a entrada no cenário artístico e cultural espanhol de um dos intelectuais contemporâneos mais conhecidos e destacados tanto dentro quanto fora do seu país. Levando em consideração a importância das traduções e dos modelos que Marías buscou fora da Espanha na constituição de sua inconfundível voz narrativa e de sua singularidade estilística, o presente trabalho tem como objetivo apresentar as discussões de uma dissertação de mestrado, iniciada em março do ano passado, que tem por base a análise da ação que o texto Macbeth, de Shakespeare, opera na gênese da obra Corazón tan blanco (1992), do escritor Javier Marías, discutindo como a relação intertextual se materializa no romance mariasiano e se integra de maneira efetiva com a escrita romanesca do escritor espanhol e suas obsessões temáticas. No que toca à metodologia, a mesma teve por base, em um primeiro momento, a leitura das obras às quais se somou um considerável número de textos críticos e teóricos que permitiu não só entender o contexto histórico e cultural no qual se insere a novelística de Marías, como também a importância do intertexto shakespeariano para a melhor apreensão dos sentidos da obra do autor espanhol. Em um segundo momento, apropriando-nos dos cinco tipos de relações transtextuais (intertextualidade, paratextualidade, metatextualidade, arquitextualidade e hipertextualidade) delineadas por Gerard Genette (1989) em seu livro Palimpsestos: a literatura de segunda mão como instrumento de literatura comparada, pretendemos demonstrar como o romancista espanhol se aproxima (e se apropria) da temática e do discurso engendrados por Shakespeare em Macbeth. Na obra Corazón tan blanco, sobressai-se o intertexto com o teatro shakespeariano do qual Marías extrai os temas recorrentes do romance como a morte, a mentira, o silêncio, o segredo, o oculto, o fingimento e o engano, fios condutores das relações falar/calar-se, saber/não saber, agir/ignorar que tanto o deslumbram e caracterizam sua narrativa. Ademais, na obra em questão, o intertexto com Macbeth é tão fundamental que a frase “My hands are your colour; / but I shame to wear a heart so white” ou bem “Mis manos son de tu color;/ pero me avergüenzo de llevar un corazón tan blanco” constitui a epígrafe da novela. Em suma, é na exegese shakespeariana que Marías propõe uma reflexão sobre a impossibilidade de alcançar a verdade sem a construção mediante a palavra. Não cabe dúvidas de que o escritor espanhol transitou pela larga avenida artístico-literária do autor inglês e, embora não haja nenhuma semelhança biográfica, estética, teórica ou política entre o dramaturgo inglês e o romancista espanhol, há afinidades temáticas, que aproximam as suas obras, sobre as quais o presente trabalho pretende se debruçar. |