Resumo |
A transformação da base produtiva, a circulação mundial de bens e produtos, a expansão do capital, a velocidade dos transportes e a revolução na transmissão da informação produziram a unificação de mercados e a construção do espaço globalizado. Essas transformações alteraram as noções de tempo e espaço no mundo contemporâneo, diminuindo as distâncias entre os lugares(HARVEY, 1989). Além disso, o processo de expansão dos mercados gerou a configuração geográfica do espaço em uma espécie de rede(CASTELLS, 1997). A partir dessas transformações, poderia-se presumir o desaparecimento de organizações locais e das paisagens culturais em detrimento da unificação pretendida pelo capitalismo tardio. Porém, o que se viu nas últimas décadas do século XX e nas primeiras do século XXI foi o surgimento de preocupações locais e regionais em dar mais atenção para as noções de memória, patrimônio cultural e identidade. A partir desse contexto estrutura-se uma rede de estudos e pesquisas que pretende compreender os usos da memória e as políticas públicas patrimoniais que se desenvolvem nas cidades da região da Zona da Mata Mineira. Inicialmente, o projeto teria como recorte a análise da paisagem cultural e do conjunto patrimonial de Cataguases (MG) mas, como a metodologia aplicada na pesquisa demanda o contato contínuo com a paisagem do local e com documentos presentes nas instâncias de poder do município, optou-se por transferir o estudo para Ponte Nova (MG), devido à proximidade à UFV. Dessa forma, o projeto tem o objetivo de investigar os usos da memória e as construções discursivas sobre a identidade local no município de Ponte Nova (MG) entre o final da década de 1980 e 2015, através da análise das paisagens culturais e dos patrimônios culturais. Para isso, realizou-se a análise dos dossiês de tombamento e registro referentes aos patrimônios culturais contidos na Secretaria Municipal de Cultura de Ponte Nova, além da análise das atas das reuniões sobre a patrimonialização dos bens. O intuito é examinar as narrativas e usos da memória utilizados para justificar a classificação dos bens como patrimônio, revelando as intenções políticas e ideológicas existentes. A paisagem da cidade também se constitui como um documento, um texto cultural que revela a história do local. Ainda não é possível discorrer aqui sobre todos os resultados obtidos durante a pesquisa, visto que ela ainda está em desenvolvimento, mas pode-se afirmar que, vindo de um processo de urbanização assentado em uma economia de base agrícola, a maior parte dos patrimônios de Ponte Nova valorizam o passado das elites agrárias locais, privilegiando obras arquitetônicas - fato que pode ser visto na paisagem cultural do local. Somente a pouco tempo as políticas preservacionistas têm se voltado para os bens imateriais. Tal fato revela qual ideal de cultura vigora nas instâncias de poder do município ao privilegiar a perpetuação de uma memória específica no espaço como sendo a memória de toda a sociedade. |