Resumo |
A partir da virada do século, a literatura fantástica ganhou cada vez mais espaço no cenário literário brasileiro, e Raphael Draccon é um de seus maiores nomes. A publicação de Dragões de Éter - Caçadores de Bruxas em 2007, ficou entre os mais vendidos da editora Leya, e marcou presença no cenário nacional e internacional. O presente trabalho é um recorte da monografia "Diálogos do Fantástico e do Maravilhoso em Dragões de Éter, de Raphael Draccon", na qual foi feita uma análise do volume um da trilogia em questão. Um dos elementos que mais se destaca no romance é a relação existente entre o mesmo e os contos de fadas, narrativas presentes no imaginário coletivo de muitas culturas, e imortalizadas nas compilações dos Irmãos Grimm e de Perrault. Buscamos analisar mais a fundo de que maneira se dá essa intertextualidade existente entre essas duas obras pertencentes ao gênero literário do maravilhoso, para assim entendermos melhor como se constrói a narrativa de Draccon, o que a torna inovadora e um sucesso tão grande de vendas. Para nortear a análise usamos uma metodologia qualitativa com base em Genette (2010), Kristeva (2005) e Jenny (1979) e suas pesquisas sobre a intertextualidade, que vão de encontro a uma mesma ideia, a de que um texto se forma com base na transformação e união de vários outros textos. Identificamos que a intertextualidade com os contos de fadas acontece de muitas formas dentro de Dragões de Éter, e que a principal delas é a paródia. Usamos então Linda Hutcheon e sua Uma Teoria da Paródia (1985) como ponto de partida teórico. Ela postula que a paródia não precisa estar necessariamente atrelada ao riso e à deformação, mas pode se configurar na ironia e na crítica, teor que identificamos na obra. No romance, os protagonistas são retirados de contos de fadas, dentre eles Chapeuzinho Vermelho e João e Maria, e é feita uma paródia desses contos, em que se critica os pontos não explicados do enredo e os aproveita para desenvolver a narrativa. Há também momentos em que não se usa a história do conto como um todo, como no caso dos dois já citados, mas apenas alguns de seus personagens e de pontos de seu enredo, que ficam em segundo plano ou apenas surgem como alusões. Pudemos perceber que ao longo da narrativa vai sendo construída a ideia de que o próprio romance é um grande conto de fadas, que "rouba" enredos e personagens dos "originais", ao mesmo tempo que cria sua própria história a partir de elementos característicos desse gênero. Com base nisso, concluímos que a relação de Dragões de Éter com os contos de fadas é muito profunda e que seu sucesso está diretamente ligado com a maneira com que o autor relê essas histórias tão importantes para os leitores, que têm a oportunidade de descobrir qual é o nome verdadeiro de Chapeuzinho e o que acontece com ela depois que sua avó é engolida pelo lobo, curiosidade que motivou Draccon a escrever e que também instiga o leitor, que sente que os protagonistas são velhos conhecidos. |