Resumo |
Entender o comportamento dos dados hidrológicos é essencial para gerir os recursos hídricos de forma eficiente. O conhecimento da tendência das vazões dos cursos d’água e da precipitação é de extrema relevância, pois permite inferir sobre a disponibilidade de água em uma região. Dessa forma, o estudo teve como objetivo identificar a mudança de tendência nos dados fluviométricos na Unidade de Gestão de Recursos Hídricos do rio Santo Antônio (UGRH 3), bem como os fatores que influenciam nessa mudança. A UGRH 3 ocupa uma área de 10767,6 km² e é uma sub-bacia da bacia do rio Doce. No estudo foram considerados dados correspondentes a toda a série histórica de vazão média anual e de precipitação total anual, disponíveis para as sete estações fluviométricas e para as sete estações pluviométricas na área de estudo. Os dados hidrológicos (vazão e precipitação) foram obtidos no Sistema de Informações Hidrológicas da Agência Nacional de Águas (ANA), o HidroWeb. O preenchimento dos dados faltantes foi feito pelo método da regressão linear simples. Para a análise de tendência foram utilizados três testes estatísticos não-paramétricos, Mann-Kendall, Pettitt e a correlação de Spearman, sendo que este último só foi necessário quando houve discrepância de resultados entre os dois primeiros. O ano de mudança de tendência foi verificado por meio do teste de Pettitt. Para executar os testes foi utilizado o suplemento XLSTAT do software Excel. Para justificar a mudança na tendência das vazões, analisou-se o aumento da demanda pelo uso da água na UGRH 3, através dos dados de outorga de uso de recursos hídricos disponibilizados pelo Instituto Mineiro de Gestão da Águas (IGAM) e o comportamento da precipitação na mesma área. Das sete estações fluviométricas analisadas, 5 apresentaram tendência significativa de redução da vazão, sendo 1966 (1 estação) e 1985 (4 estações) os anos de início da nova tendência. Essa alteração no padrão dos dados fluviométricos pode ser justificada pelo aumento da demanda pelo uso da água, uma vez que houve um acréscimo significativo na vazão outorgada de 0,044 m³/s em 1990 para 2,80 m³/s em 2018. Com base nos sensos demográficos do IBGE de 1990 e 2010 a população da área de estudo cresceu em torno de 5,6%, o que justifica em partes o aumento da demanda por água e o aumento da influência antrópica. Das sete estações pluviométricas analisadas, duas apresentaram tendência significativa de redução, permitindo inferir que em alguns locais da bacia o total precipitado vem diminuindo. Com isso podemos concluir que na UGRH 3 há uma tendência de redução da disponibilidade hídrica. Essa tendência se deve tanto a fatores climáticos, quanto a fatores antrópicos. Medidas preventivas devem ser tomadas e a gestão de recursos hídricos melhorada a fim de reduzir o impacto das ações antrópicas sem bloquear o desenvolvimento econômico da região, garantindo a preservação hídrica em termos quantitativos e qualitativos. |