Resumo |
O Brasil desempenha importante papel na oferta global de alimentos. Ao mesmo tempo, a agropecuária nacional responde por mais de um terço das emissões brasileiras de gases causadores de efeito estufa (GEE). Assim, é fundamental que o país mantenha seu bom desempenho agrícola, mas em bases sustentáveis. O alcance desse objetivo depende do comportamento pró-ambiental dos agricultores, o qual, por sua vez, tem relação direta com sua percepção das mudanças climáticas e conhecimento sobre o fenômeno. A presente pesquisa procurou debater essa problemática do ponto de vista da agricultura familiar, oferecendo enfoque regionalizado. A análise foi desenvolvida junto a agricultores familiares cujas propriedades estão localizadas na bacia hidrográfica do Rio Paraguaçu, Bahia. Esse rio abastece vários municípios baianos, sendo responsável pelo sustento hídrico de suas populações e pelo fortalecimento da agricultura estadual, sobretudo a familiar. A metodologia compreendeu a aplicação de questionário semiestruturado a 67 agricultores residentes em 15 municípios do semiárido baiano, cujo território pertence integralmente à área da bacia. O desenho amostral foi criado de forma a obter distribuição aleatória das propriedades escolhidas. Testou-se, por meio do teste Qui-quadrado, a hipótese de que conhecimento e percepção das alterações climáticas são positivamente relacionados à adoção ou disposição de adotar práticas agrícolas sustentáveis. Os resultados indicaram que 90% dos agricultores acreditam que as mudanças climáticas afetarão “muito negativamente” suas atividades; 6% acham que o efeito será “mais ou menos negativo”; 3% pensam que serão afetados “positivamente”; e 1% não soube responder. Apenas 3% garantiram ter informação abrangente sobre mudanças climáticas; 3% afirmaram não possuir nenhum conhecimento sobre o tema e 94% disseram ter compreensão incompleta. Plantio direto na palha, sistemas agroflorestais, reflorestamento com espécies nativas e conservação de matas nativas ou nascentes são práticas pró-ambientais desenvolvidas pelos agricultores (22% praticam pelo menos uma dessas técnicas). A maior parte dos entrevistados não sabe (43%) ou não acredita (29%) que suas práticas agrícolas possam causar prejuízos ambientais. Os que consideram que a forma como conduzem suas atividades possa ser danosa à natureza correspondem a 29%; entre esses, a maior parte (94%) está disposta a alterar suas técnicas produtivas, demonstrando preocupação ambiental. O teste Qui-quadrado indicou que há associação estatisticamente significativa entre adoção de práticas sustentáveis e percepção de que as práticas agrícolas utilizadas prejudicam o meio ambiente. Já a associação entre adoção de práticas sustentáveis e percepção/conhecimento sobre mudanças climáticas não foi significativa. Esses resultados permitem concluir que é necessário investir em aumento do conhecimento dos agricultores sobre a importância de práticas de cultivo alternativas, menos danosas à natureza. |