Resumo |
Este trabalho traz parte dos resultados alcançados no desenvolvimento da pesquisa “Por ELAS na historiografia da arquitetura moderna brasileira”. Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, ancorada na análise de acervos documentais, que busca a revisão historiográfica da arquitetura e urbanismo sob a perspectiva de gênero, conferindo a ela uma nova leitura, que passa a abarcar não apenas grandes feitos e projetos arquitetônicos em si, mas também como promoção, ampliação e diversificação de assuntos até então pouco explorados pela leitura tradicional e progressista – o papel e a participação feminina no contexto, envolvendo assim, a aproximação do entendimento da arquitetura moderna como praxe social. Nesta etapa da pesquisa, pretendeu-se identificar as arquitetas e urbanistas que se diplomaram e atuaram na primeira metade do século XX, mais precisamente entre as décadas de 1920 e 1940, no estado do Rio de Janeiro e que foram reconhecidas pelos seus pares. Desta forma, foram analisados os arquivos da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, os registros dos conselhos de classe e os periódicos da época ( A Casa e Revista da Directoria de Engenharia/ PDF). Como resultados, observou-se uma presença feminina relativamente alta se comparada a outros cursos na mesma época, porém, no exame das trajetórias profissionais, percebe-se que poucas mulheres de fato exerceram a profissão e obtiveram algum destaque profissional. Na revista “A Casa”, a inserção feminina se deu através de um longo processo, no qual as mulheres, inicialmente ignoradas, passam, gradativamente, a fazer parte do público-alvo da revista, no início da década de 1930, ainda que sob a abordagem de assuntos estereotipados, como moda, beleza e domesticidades, para, no final dos anos 1930, conquistarem definitivamente o espaço de agentes que também possuíam autorias de projetos arquitetônicos e que participavam das discussões entre seus contemporâneos. Ainda que as mulheres tenham conquistado seu lugar na revista “A Casa”, observou-se que a maioria dos projetos realizados por elas eram de decoração e de interiores, o que leva a uma especulação a respeito de uma possível hierarquia de gênero na arquitetura moderna. Já no periódico “Revista da Directoria de Engenharia”, da prefeitura do Rio de Janeiro, observa-se a presença feminina desde a sua criação , em 1932, mas essa ainda essa não chega nem perto de se equiparar numericamente à presença masculina. Observou-se, que apesar das mulheres terem voz neste periódico, elas raramente apareciam enquanto autoras de projetos. Nesse sentido, conclui-se que a inserção feminina na arquitetura moderna brasileira não ocorreu de forma uniforme, mas sim sob processos disformes e diversos, e à despeito de algumas mulheres terem obtido certo êxito profissional, ainda se pode especular a respeito de uma possível hierarquia de gênero no movimento da arquitetura moderna no Brasil. |