Resumo |
Algumas espécies não-nativas (exóticas ou alóctones) tais como tucunarés, curimatãs, tilápias, mandis e trairão foram introduzidas na Bacia do Rio Doce na intenção de incentivar a pesca desportiva e a produção comercial de peixes. Por serem mais tolerantes e generalistas, espécies alóctones podem aproveitar distúrbios ambientais e tornar-se dominantes nas assembleias de peixes. Em escala global, as espécies exóticas são o segundo fator mais relevante na extinção das espécies nativas, gerando perdas sociais e econômicas. Assim, a riqueza e biomassa de espécies exóticas versus nativas podem ser utilizadas para estimar o grau de impacto ambiental em um rio. O objetivo deste estudo foi avaliar se a biomassa de espécies exóticas supera a biomassa de espécies nativas em oito pontos no trecho capixaba do Rio Doce. As coletas foram realizadas em delineamento inteiramente casualizado, com seis repetições, sendo avaliadas seis campanhas e oito pontos localizados entre Colatina/ES e Linhares/ES. Petrechos variados foram utilizados para abranger os diferentes microhabitats. Os peixes foram eutanasiados em solução de Eugenol e em seguida fixados em formol 10%. Os indivíduos foram armazenados em solução de álcool etílico 70% e mantidos na coleção ictiológica do Museu de Zoologia João Moojen, na Universidade Federal de Viçosa. Durante as seis campanhas, foram registradas 58 espécies, sendo 40 nativas e 18 exóticas. Das 18 exóticas, 17 são de interesse comercial. Nos oito pontos amostrados, a riqueza de espécies nativas em relação às espécies exóticas foi maior. Porém nos pontos 08 (Rio Doce – Colatina) e 01 (Rio Doce – Baixo Guandu), a biomassa de espécies exóticas representa mais de 50% da composição dos espécimes amostrados. Nos pontos 07 (Ribeirão Palmas – Linhares) ambiente de riacho, 06 (Lagoa do Óleo – Colatina) e 05 (Lagoa do Limão – Colatina), ambientes lacustres, há predominância em biomassa de espécies nativas (acima de 70%). Essa mesma tendência só foi observada na calha principal do Rio Doce nos pontos 02 (Rio Doce Colatina), 03 (Rio Doce – próximo à Fazenda Três Marias) e 04 (Rio Doce - Povoação), com predominância em biomassa de espécies nativas (66%, 72% e 80% respectivamente). O predomínio de espécies nativas no ambiente de riacho pode ser explicado pelo fato de que o pequeno tamanho do corpo d’água não favorece as espécies exóticas de grande porte. Já a dominância de nativas nos 3 trechos da calha principal do rio pode ser explicada pela proximidade desses pontos com afluentes, os quais não se encontram tão degradados. Já a dominância de espécies exóticas nos pontos 01 e 08 pode ser explicada pelos efeitos de jusante da UHE de Mascarenhas. Conclui-se que os afluentes do rio Doce funcionam como refúgios para espécies nativas, apresentando maior riqueza e biomassa das mesmas, em contraste com os pontos ao longo da calha do rio, localizados em áreas impactadas e com maior concentração em biomassa de espécies exóticas. |