Resumo |
A estratégia de forrageio tomada por predadores afeta diretamente sua sobrevivência, uma vez que a decisão tomada pelo animal irá influenciar o balanço entre a quantidade de energia gasta para capturar a presa e a quantidade de energia obtida com a predação. As aranhas (ordem Araneae) são considerados um dos grupos de predadores animais mais importantes em termos de diversidade (composta atualmente por mais de 48000 espécies). Em meio à tamanha diversidade, existe também uma grande variedade de comportamentos de captura de presas, que podem se enquadrar em dois grandes grupos denominados: “senta e espera” e “busca ativa”. A maioria das aranhas que adotam a estratégia de “senta e espera” constroem teias para a captura de presas. Adultos de Nephila clavipes, por exemplo, decoram suas teias, geralmente com carcaças de presas, as quais atraem insetos saprofíticos. Contudo, um comportamento observado em N. clavipes e ainda não investigado é aquele no qual as aranhas de tal espécie “limpam” a teia, removendo restos de detritos vegetais da mesma. Dessa forma, o presente estudo teve como principal objetivo identificar os fatores ecológicos que levam N. clavipes a limpar suas teias, respondendo à seguinte pergunta: por que aranhas da espécie N. clavipes limpam suas teias? Para responder tal pergunta, testou-se três hipóteses não excludentes: (i) A presença de detritos aumenta a chance de rompimento da teia de N. clavipes; (ii) Os detritos diminuem a taxa de interceptação de presas pela teia; (iii) Os detritos aumentam o tempo que a aranha leva para capturar a presa. Para testar a hipótese (i) foram adicionados pequenos fragmentos de folhas às teias e avaliado a situação das mesmas (intacta ou destruída) após 12 horas; para a hipótese (ii) detritos vegetais foram adicionados às teias e observado a taxa de interceptação de presas em função do número de detritos presentes na teia; e para a hipótese (iii) foram colocadas presas na teia a 10 cm de distância da aranha e medido o tempo em que a aranha levou para alcançar a presa em repetições sem detritos e com diferentes volumes de detritos na teia. Em relação a hipótese (i), a frequência de rompimento das teias foi independente da quantidade de detritos. Já a hipótese (ii) também foi refutada, pois verificou-se que não houve relação entre o número de detritos e a taxa de interceptação de presas pela teia. Finalmente, nossa hipótese (iii) foi corroborada, sendo que a presença de detritos influenciou negativamente o tempo de captura das presas. Considerando que N. clavipes orienta-se e discrimina a presença de presas por meio de padrões de vibração na teia, a presença de detritos presos a teia, até mesmo em pequenas quantidades, pode ser suficiente para prejudicar a capacidade de orientação da aranha e atrasar a captura da presa. |