Resumo |
A feitura dramatúrgica do escritor paraibano Ariano Vilar Suassuna (1927- 2014) caracteriza-se pelo constante diálogo com a literatura e o teatro produzidos na Antiguidade Clássica, assim como com as obras produzidas por autores em épocas posteriores, a exemplo de Cervantes, Molière, Gil Vicente, os folhetos de cordel, o circo e a tradição oral dos cantadores do Nordeste. Suassuna valia-se desse processo composicional com o intuito de elaborar uma arte que expressasse essencialmente a cultura popular brasileira. Dessa maneira, a reflexão sobre a nossa cultura norteia sua concepção estética e política como escritor em todos as esferas em que atuou, seja como fundador do Movimento Armorial (1970), seja como professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco, seja como secretário de cultura do mesmo Estado, cujo cargo propiciou diversas ações, entre as quais, a criação das “aulas-espetáculo”. Tal formato possibilitou, a partir de performances de dança, de música, de teatro e de exibições de pinturas e de esculturas, pensar na cultura como elemento fundamental para o entendimento que um país, nesse caso o Brasil, deve ter de si. Dentre as inúmeras fontes utilizadas por Ariano em sua construção artística, propomos discorrer, nessa apresentação, acerca do diálogo (BAKHTIN, 2002) estabelecido com o teatro greco-romano, dado o importante legado da tradição teatral da Antiguidade para o autor. Para tanto, por meio da comparação das peças Miles Gloriosus, do dramaturgo latino Titus Maccius Plautus (251 a.C – 184 a.C) e Auto da Compadecida (1955), do dramaturgo brasileiro, buscaremos apontar as aproximações e os distanciamentos entre as duas comédias. Os recursos dramatúrgicos, a estruturação da intriga, as personagens, bem como o emprego do riso (AGNOLON, 2017; BAKHTIN, 2010) serão destacados com o intuito de observar os modos pelos quais os elementos da comédia plautina (HUNTER, 2010) foram incorporados e ressignificados estética e socialmente por Ariano Suassuna em seu universo místico e sertanejo (CASCUDO, 1984). O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. |