Resumo |
A insuficiência renal crônica (IRC) é um acometimento de baixa prevalência na espécie equina, e decorre da perda da função renal, desencadeando alterações no equilíbrio eletrolítico e ácido base, comprometendo a excreção de metabólitos e compostos nitrogenados. A IRC pode ser classificada de acordo com os achados clínicos e patológicos em doença glomerular primária e doença tubulointersticial primária, sendo esta decorrente de sepse, AINES, aminoglicosídeos, pigmentúria, necrose tubular, pielonefrite, nefrolitíase, hidronefrose, displasia renal e raramente necrose papilar. O objetivo desse trabalho foi relatar um caso de IRC em equino. Uma égua de 18 anos, SRD, com 350 kg, foi atendida no HOV/DVT/UFV com queixa de apatia e prostração. Segundo o proprietário, os sinais iniciaram uma semana antes do atendimento e desde então houve piora gradativa do quadro. Ao exame físico o animal apresentou mucosas hipercoradas com halo cianótico ao redor dos dentes incisivos, desidratação de 7%, motilidade intestinal diminuída, pulso digital forte nos 4 membros, crepitação pulmonar bilateral à auscultação, edema ventral no abdome e sinais de laminite. Foi estabelecido tratamento imediato com hidratação IV com Ringer lactato, ceftiofur (5 mg/kg, SID, IV), gentamicina (6,6 mg/kg, SID, IV), flunixin meglumine (1,1 mg/kg, SID, IV) e crioterapia nos cascos. Nos resultados dos exames laboratoriais detectou-se no hemograma leucocitose por neutrofilia com desvio a esquerda regenerativo, enquanto no exame bioquímico observou-se azotemia, hipercalemia, hipocalcemia, hipofosfatemia e hipercloremia. A diferença de íons fortes (DIF) indicou a presença de acidose metabólica hiperclorêmica. O diagnóstico clínico foi sepse com IRC. Com o intuito de diminuir a hipercloremia, administrou-se 100 gramas de acetato de sódio diluídos em 20 litros de água por via nasogástrica em bolus de 2 litros a cada 30 minutos. No exame ultrassonográfico evidenciou-se perda de definição córtico-medular bilateral e aumento da ecogenicidade, além da presença de líquido subcapsular no rim direito. Decorridos 10 horas do tratamento, o animal persistia em anúria, optando-se pela administração 1 mg/kg de furosemida, sem resultado nas horas subsequentes. Completadas 27 horas de tratamento, o quadro clínico do paciente teve piora significativa, o animal entrou choque séptico e veio a óbito. Na necropsia foi observado hidronefrose, rins friáveis e aumentados de volume, hidrotórax, hidropericárdio, grande volume de sangue no peritônio, petéquias disseminadas nos rins, mesentério e pulmões. No exame histopatológico foi observada nefrite tubulointersticial crônica ativa com infiltrado neutrofílico, piócitos, dilatação tubular, fibroplasia intersticial e hiperplasia epitelial de pelve renal. As causas de IRC em equinos, na maioria das vezes, podem ser difíceis de estabelecer, e devido às alterações de caráter irreversível, o tratamento terapêutico usualmente não é eficaz. |