Resumo |
A Cannabis sativa possui mais de 500 canabinoides, dentre os quais destacam-se o canabidiol (CBD) e o tetra-canabinol (THC), usados no tratamento de diversas condições clínicas. No Brasil, o tema recebeu visibilidade em 2014, quando o caso de Anny Fischer veio à mídia, servindo de inspiração para famílias em situação semelhante. Em 15 de janeiro de 2015, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a importação do CBD para tratamento da epilepsia, mudando o rumo das discussões sobre o tema. Neste contexto, tem-se o objetivo analisar as mediações da Rede Globo de Televisão ao retratar o processo de liberação canabidiol para uso medicinal no Brasil, ao mesmo tempo que populariza as pesquisas relacionadas. A importância da popularização da ciência consiste em seu impacto social, visto que esta é a principal forma de acesso dos cidadãos não-cientistas às inovações científicas, que direta ou indiretamente afetam suas vidas (VAN DIJK, 2011). A escolha pelo jornalismo de TV se justifica pelo relatório Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil (2015), que classificou a televisão como principal fonte de popularização da Ciência e Tecnologia para os brasileiros permanece sendo a televisão. Martín-Barbero (2006) propõe que o conteúdo desse meio seja analisado com base nas mediações que este realiza na sociedade, sugere, assim, que essa análise observe a cotidianidade familiar, a temporalidade social e a competência cultural. Foram coletadas, na plataforma online Globoplay, 18 programas veiculados em rede nacional, entre 2014 e 2018. Realizou-se a Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016) verificando três grandes categorias: doenças citadas, seleção lexical e fontes entrevistadas (ou argumentatividade). O corpus se dividiu em: anteriores a liberação (até 2014); no dia da liberação (15 de janeiro de 2015); e após a liberação (fevereiro de 2015 a agosto de 2018), possibilitando a descrição da situação comunicativa. Os programas que abordaram o tema foram: Jornal Hoje, Jornal Nacional, Hora 1, Encontro com Fátima Bernardes, Bom dia Brasil, Bem Estar, Conversa com Bial e Fantástico. As doenças citadas pelas notícias foram: Alzheimer, Parkinson, Esclerose Múltipla e epilepsia refratária. A presença das famílias como argumento de autoridade ocorre no primeiro e segundo momentos da análise. No terceiro momento, dá-se voz aos profissionais da saúde e cientistas, capazes de dar informações mais precisas a respeito dos efeitos dos derivados da Cannabis sativa. A ressignificação pode ser observada pelas estratégias de argumentatividade e seleção lexical. A argumentatividade garante credibilidade e legitimação às notícias, já a seleção lexical demonstra a intenção de se desvencilhar o canabidiol de uma droga ilícita, o que é observado quando este é denominado como remédio, medicamento, medicação ou tratamento, mesmo quando outros medicamentos também são tratados popularmente como drogas. |