Resumo |
Produto de natureza historiográfica, este estudo busca compilar e analisar a sociodemografia dos óbitos registrados durante a Gripe Espanhola, que irrompeu na cidade de Campos dos Goytacazes – no estado do Rio de Janeiro, entre outubro de 1918 e fevereiro de 1919, e que levou, pelo menos, 833 pessoas à morte (cerca de 0,9% da população da época). Entendendo que a citada epidemia não atingiu a todas as camadas sociais da mesma maneira, em razão de fatores como resistência orgânica, por exemplo, parte-se da questão: qual o perfil social das vítimas fatais da Influenza em Campos dos Goytacazes nos anos de 1918 e 1919? A hipótese sugere que as consequências da Gripe Espanhola foram mais nefastas entre negros e pardos residentes em regiões distritais e periféricas da cidade. Nesse sentido, objetivou-se compreender e desenhar as especificidades sociodemográficas da Gripe em Campos, pela observação de fatores como raça e espaço geoeconômico. Do ponto de vista metodológico, a Influenza de 1918 foi um dos surtos de caráter infeccioso mais devastadores já registrados desde o início da história moderna, com o número estimado de 20 a 100 milhões de mortes em todo o mundo. Em território nacional, essa quantia teria avançado a cifra de 35 mil vítimas, de acordo com dados do Instituto Butantã de São Paulo. Historiadores como Gilberto Hochman e Claudio Bertolli Filho apontam que a alta taxa de morbidade da doença teria criado a falsa sensação de que a sociedade tenha sido afetada igualmente durante a pandemia de Gripe Espanhola. Contudo, passados 100 anos desde o flagelo epidêmico, pouquíssimos trabalhos se dedicaram a delinear e compreender a letalidade, sobretudo no interior do país. Nosso corpus documental constitui-se de registros de óbito, produções memorialísticas e mídia impressa. Para o alcance da proposta, tomaremos por empréstimo conceitos oriundos da epidemiologia social. A força da pesquisa opera na Nova História das doenças, e Samuel C. Adamo é o nosso principal interlocutor. |