Resumo |
O trabalho agrícola é considerado uma das ocupações mais perigosas da atualidade, sobretudo para homens com idade entre 15 e 49 anos que aplicam agrotóxicos. No entanto, as mulheres que não aplicam não estão passivas à exposição aos agrotóxicos e a seus efeitos danosos, visto que frequentemente auxiliam os homens na aquisição, transporte, armazenamento e preparo das caldas. Além disso, são elas as principais responsáveis pela lavagem das roupas e Equipamentos de Proteção Individual (EPI) contaminados, sendo que a maioria não identifica essa atividade como um risco à saúde. Assim, o objetivo do estudo foi investigar possíveis rotas de exposição aos agrotóxicos às quais mulheres rurais estão submetidas. Trata-se de um estudo transversal realizado com mulheres rurais da zona da mata mineira, residentes em domicílios onde há aplicadores de agrotóxicos ou não. A coleta de dados aconteceu nas visitas domiciliares e com entrevista semiestruturada. Os dados foram tabulados no programa Microsoft® Office Excel e analisados no software Statistical Program for Social Science (SPSS) versão 20.0. O trabalho é parte de um projeto de Mestrado, registrado sob o número 40502270969 e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa-MG. A amostra foi composta por 37 mulheres com mediana de idade de 55 anos (mín=19; máx=77). Destas, 84% (n=31) têm ou já tiveram contato com agrotóxicos por conviverem com pelo menos um homem aplicador em casa e o tempo de exposição apresentou mediana de 10 anos (mín=1; máx=41). As principais rotas de exposição identificadas foram: lavagem de roupas utilizadas na lavoura, realizada por 78,3% (n=29) das participantes, uso de glifosato próximo à residência em 75,7% (n=28) e colheita manual realizada por 67,6% (n=25). Quanto à lavagem de roupas contaminadas, 96,5% (n=28) das mulheres relataram não usar EPI como luvas e avental para realizar essa atividade, 44,8% (n=13) disseram possuir alergias na pele e 48,3% (n=14) problemas nas unhas. Apesar de não haver significância entre as variáveis, os sinais e sintomas autorrelatados podem estar relacionados ao contato dos agrotóxicos pela via dérmica. Quando questionadas sobre como avaliavam o seu contato com agrotóxicos no dia-a-dia, 13,5% (n=5) consideravam ter um contato razoável, 56,8% (n=12) pouco contato e 29,7% (n=11) nenhum contato. Destaca-se que das 11 mulheres que desconsideram contato com agrotóxicos, 7 cumprem a função de lavagem das roupas contaminadas há mais de 10 anos. Conclui-se que mulheres rurais que convivem com aplicadores de agrotóxicos estão submetidas a diversas rotas de exposição, principalmente por meio de atividades domésticas habitualmente executadas por elas, o que pode comprometer a saúde e qualidade de vida. O fato da maioria das entrevistadas não reconhecer o risco existente no contato residencial, sugere uma invisibilidade das possíveis formas de contaminação por agrotóxicos no seu cotidiano. |