Resumo |
A presença de micro-organismos é um indicador de qualidade ambiental e auxiliam na recuperação de áreas degradadas e estabilização de ambientes perturbados. Os fungos micorrízicos arbusculares (FMA) são micro-organismos simbiontes pertencentes ao filo Glomeromycota e se associam mutualisticamente à maioria de espécies de plantas. Essa associação confere às plantas melhoria nutricional, com maior absorção de nutrientes em geral e água, aumenta também a tolerância a estresse biótico e abiótico, além de atuar na estabilização de macro-agregados do solo. Em contrapartida, os FMA recebem fotoassimilados produzidos pelas plantas associadas. Dessa forma, a associação micorrízica arbuscular é uma importante estratégia de adaptação e bioproteção para a planta e o fungo. O objetivo deste trabalho foi caracterizar os FMA em quatro coletas (C1, C2, C3 e C4 em março e setembro de 2016 e 2017), em áreas atingidas por rejeito de mineração de ferro, resultante do rompimento da barragem do Fundão, ocorrido em 5 de novembro de 2015 em Mariana-MG. Foram avaliadas duas áreas em recuperação (REC1 e REC2) e uma área de floresta não atingida (UND), onde foram coletadas amostras de solo para a extração e identificação de esporos de FMA. Ao longo das coletas foi observado um avanço no processo de revegetação, sendo que C1 é estágio inicial e C4 mais avançado. Foram encontrados 16 morfotipos de FMA, sendo Glomus sp1 com maior ocorrência. Os morfotipos Paraglomus occultum, Dominikia cf. minuta, Glomus cf. ambisporum, Acaulospora herrerae e A. scrobiculata foram encontrados apenas em REC1 e REC2. Esses morfotipos são possivelmente mais adaptados às condições do rejeito. Os morfotipos Rhizophagus clarus e Acaulospora sp1 foram encontrados apenas em UND, mostrando uma possível sensibilidade ao ambiente perturbado. Os demais morfotipos foram encontrados em REC e UND, sendo que Glomus glomerulatum e Diversispora sp. foram relatados em REC apenas em C3 e C4 e Glomus sp3 apenas em C4, quando as áreas se encontravam em processo avançado de revegetação. REC1 e REC2 apresentaram 11 morfotipos ao final das quatro coletas e UND apresentou 13 morfotipos, mostrando que o ambiente natural possibilita maior número de morfotipos de FMA. Em C1, C2 e C3 foram encontrados 8 dos 16 morfotipos, enquanto em C4, 14 morfotipos. REC1 e REC2 apresentaram similaridade em sua composição nas C1 e C2. UND, em todas as coletas, e REC1 em C4, formaram outro grupo, sendo que REC1-C4 é mais próxima de UND-C4. A área de floresta não sofreu modificações em sua composição com o tempo por ser um ambiente em equilíbrio. A similaridade de REC1-C4 e UND-C4 pode ser explicada pela proximidade geográfica das duas áreas, sendo possível o carreamento do material de UND para a parte mais baixa, REC1. A análise temporal das áreas atingidas mostra uma alteração na composição de FMA entre as coletas em função do processo de revegetação. |