Resumo |
No Brasil a grande maioria dos estudantes surdos é pertencente a famílias ouvintes, sendo que muitos não são estimulados para aquisição da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) desde pequenos. Tal situação, associada ao modelo inclusivo, sem adaptações pedagógicas, geram diversas dificuldades no processo inicial de escolarização dos surdos. Quando os mesmos não possuem a garantia de seus direitos, como o atendimento educacional especializado (AEE) e o intérprete de LIBRAS, e estão dispersos em diferentes escolas, a escolarização se torna ainda mais difícil. Na busca por reduzir essa carência no município de Viçosa, o Movimento Bilíngue Surdo de Minas Gerais e a Universidade Federal de Viçosa (UFV) estruturaram, em 2015, o projeto de extensão BioLIBRAS, consolidando a Sala de Aprendizagem Bilíngue (SAB). O objetivo do projeto é contribuir com a formação dos estudantes surdos do Ensino Fundamental de Viçosa e região, por meio do desenvolvimento da identidade surda, da LIBRAS e da iniciação à ciências bilíngue, na SAB; da formação básica em LIBRAS das famílias; e do apoio aos professores das escolas inclusivas de Viçosa. Atualmente, participam das oficinas semanais, realizadas na SAB, oito crianças surdas e seis familiares. O presente semestre teve início por meio do diagnóstico participativo com as famílias e da formação da equipe do projeto, na área de ensino de ciências no contexto dos surdos e na pedagogia visual. A partir das discussões foram repensadas as estratégias didáticas utilizadas na SAB, priorizando o cotidiano dos surdos e a construção de sua identidade junto à formação em ciências. Durante a estruturação desse planejamento destacou-se a importância do protagonismo do professor surdo na sequência didática a ser construída, de forma a garantir o local de fala e a representatividade. A sequência, denominada “Onde estou? Quem sou?”, foi estruturada promovendo a interdisciplinaridade entre a ciências e a geografia, abordando os temas: localização espacial e situações cotidianas no contexto do surdo e suas adaptações. Ao longo do semestre foram realizadas 12 oficinas com os estudantes surdos, envolvendo o ensino de ciências e geografia bilíngue e bicultural. Parte das oficinas foram desenvolvidas com as crianças junto de seus familiares, e na outra parte os familiares foram separados, buscando a sensibilização para o aprendizado da LIBRAS, com o objetivo de favorecer a comunicação no ambiente familiar. As oficinas promoveram vivências em locais diversos, partindo da SAB até outros ambientes da UFV e do centro da cidade, simulando situações do cotidiano para a construção da autonomia do sujeito surdo, quanto a localização e comunicação, afirmando sua identidade. Como resultado foi identificado, por meio dos relatos visuais das crianças surdas, desenvolvidos ao longo da sequência e ao final, o avanço na constituição da identidade surda, na aquisição da língua e na significação dos conceitos científicos trabalhados. |