Resumo |
Cianobactérias são micro-organismos fotossintéticos oxigênicos pertencentes ao domínio Bacteria, e que apresentam distribuição cosmopolita na Terra. Cumpre mencionar que tais organismos são fontes de substâncias bioativas de diferentes classes químicas que apresentam ação citotóxica, antifúngica, antibacteriana e antiviral. Dessas substâncias, destacam-se as toxinas, que são prejudiciais aos humanos e animais, produzidas por diversos gêneros de cianobactérias e denominadas cianotoxinas. De acordo com seu efeito biológico essas toxinas são classificadas como hepatotoxinas, neurotoxinas, citotoxinas e dermatotoxinas. Dentre as hepatotoxinas destacam-se as microcistinas, heptapeptídeos cíclicos biossintetizados por via não-ribossômica. A prospecção de linhagens produtoras de microcistinas tem sido realizada, principalmente, em cianobactérias unicelulares e planctônicas, isoladas de ambientes de clima temperado e, assim, linhagens isoladas de ambientes tropicais e subtropicais têm sido sobremodo negligenciadas. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi realizar a prospecção, utilizando ferramentas moleculares e químicas, do potencial de produção de microcistinas em 63 linhagens de cianobactérias morfológica e ecologicamente distintas, pertencentes à Coleção de Cianobactérias e Microalgas da Universidade Federal de Viçosa (CCM-UFV). Três genes envolvidos na biossíntese de microcistinas foram investigados por PCR: mcyD, que codifica para uma Policetídeo Sintetase (PKS) modular, bem como mcyE e mcyG, que codificam para enzimas híbridas contendo módulos Peptídeo Sintetase Não-Ribossomal/Policetídeo Sintase (NRPS/PKS). Os produtos de PCR foram então submetidos à sequenciamento. A confirmação química da produção de microcistinas foi posteriormente avaliada por cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas (LC-MS). Das 63 linhagens investigadas, cinco (Nostoc spp. CCM-UFV010 e CCM-UFV019; Fischerella spp. CCM-UFV026 e CCM-UFV036; e Scytonema sp. CCM-UFV057) apresentaram resultados positivos para amplificação e sequenciamento dos genes avaliados, indicando potencial genético para a produção de microcistinas. Não obstante, três linhagens (CCM-UFV026, CCM-UFV036 e CCM-UFV057) tiveram a produção de microcistinas confirmada por LC-MS. Cumpre mencionar que esse é o terceiro relato de linhagens do gênero Fischerella produtoras de microcistinas no mundo, sendo o primeiro para o estado de Minas Gerais; ademais, esse é também o primeiro relato, no Brasil, de uma linhagem de Scytonema capaz de produzir esta toxina. Tomados em conjunto, os resultados obtidos evidenciam a importância da prospecção de microcistinas em linhagens de cianobactérias morfologicamente distintas e isoladas de diferentes regiões, possibilitando a descrição de novos gêneros produtores bem como de novas variantes desta toxina. |