Resumo |
Kluyveromyces marxianus é uma levedura termotolerante capaz de assimilar um amplo espectro de açúcares e produzir biomoléculas de interesse industrial tais como etanol, compostos aromáticos e enzimas. Além disso, essa levedura é o organismo eucarioto que apresenta as taxas de crescimento mais elevadas, demonstrando o seu potencial para aplicações em bioprocessos. A linhagem de K. marxianus CCT 7735, anteriormente designada UFV-3, foi isolada de uma indústria de laticínios de Minas Gerais em função da alta atividade da enzima β-galactosidase. Essa levedura também é capaz de converter a lactose do permeado de soro de queijo e de ricota, subprodutos abundantes da indústria de latícinios, em etanol com altos rendimentos. Porém, o seu crescimento é inibido em concentrações de etanol a partir de 4% (v/v). Recentemente, 4 linhagens mutantes de K. marxianus CCT 7735 tolerantes ao etanol foram obtidas por adaptação evolutiva em laboratório pelo nosso grupo de pesquisa. Objetivou-se com este trabalho, realizar a caracterização fisiológica dessas mutantes para avaliar se ocorreu a perda de fenótipos relevantes para a produção de etanol. Para avaliar a termotolerância e a capacidade de crescimento em meio com etanol, as linhagens foram estriadas em meio ágar YPL (extrato de levedura 1%, peptona 2%, lactose 2% e ágar 2% m/v) sem etanol e com etanol nas seguintes concentrações: 5, 6, 7 e 8% (v/v). As placas foram incubadas à 37, 45, 48, 50 e 52ºC. Os parâmetros fermentativos foram determinados a partir dos cultivos das linhagens selvagens (parentais) e mutantes em 100 ml de meio definido Yeast Nitrogen Base (YNB) 0,67% (m/v) contendo 2% (m/v) de lactose (YNBL). A cada hora, durante 24h, foram retiradas alíquotas para fazer a leitura da Densidade Ótica (DO)600nm e análise de metabólitos por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC). Para a determinação de massa seca das linhagens evoluídas, as células foram inoculadas em meio YNBL. Seis diluições foram realizadas para leitura da D.O600 nm e distribuiu-se 15 ml das culturas em 3 cadinhos, os quais foram deixados em estufa para secar e então quantificar a massa das células. Observou-se uma considerável diferença de crescimento entre as linhagens selvagens e mutantes em 5% (v/v) de etanol à 45ºC. Por outro lado, o crescimento das linhagens mutantes e selvagens foi similar à 37ºC. Em geral, a velocidade específica de crescimento, as taxas específicas de consumo de lactose e produção de etanol, a produtividade volumétrica e o rendimento de etanol foram similares entre as linhagens selvagens e mutantes. Contudo, a linhagem mutante 4 se destacou por apresentar a maior taxa específica de produção de etanol. Portanto, conclui-se que as linhagens mutantes apresentaram maior resistência ao etanol e mantiveram as suas características fermentativas. Além disso, as linhagens mutantes não perderam a característica de termotolerância. |