Resumo |
A violência doméstica e familiar contra as mulheres é a manifestação mais comum da violência de gênero, sendo a mais frequente na América Latina e Caribe. No Brasil, desde a década de 1980, os índices de feminicídio vêm aumentando. Diante desse quadro, é necessário pensar novas estratégias de enfrentamento ao problema, visto que as ações, até então implementadas, pautadas principalmente no Direito Penal, têm se mostrado insuficientes ou ineficientes. Dessa maneira, a perspectiva de prevenção da violência, notadamente por meio de ações educativas que promovam o acesso à informação para as faixas etárias mais jovens, parece ser promissora. Partindo de tal premissa, este trabalho foi conduzido em dois momentos. No primeiro, objetivou-se verificar o conhecimento que os adolescentes possuíam a respeito da violência doméstica analisando-se as redações por eles produzidas. No segundo momento, objetivou-se analisar se o acesso à informação produz mudanças em suas percepções sobre a violência doméstica. Para tal, foi realizada uma oficina pedagógica e, a seguir, aplicada uma entrevista fundamentada em um roteiro semiestruturado. Os dados foram analisados utilizando-se a análise de conteúdo. Os resultados indicaram que os adolescentes possuem baixo nível de informação sobre a violência doméstica, sendo influenciados pelo discurso midiático e por suas vivências pessoais. Também ficou evidenciado que, embora afirmem repudiar a violência física, muitos adolescentes corroboram com as crenças sexistas e patriarcais que fomentam a violência de gênero, sem se dar conta dessa incoerência. Após a realização da oficina pedagógica, não houve mudança sobre a percepção dos adolescentes quanto às suas crenças e atitudes em relação à violência doméstica. Conclui-se, portanto, que, embora o acesso à informação seja de fundamental importância para promover a prevenção da violência doméstica e familiar contra as mulheres, ações pontuais e esparsas, como oficinas e palestras, podem ter seu potencial educativo limitado, especialmente no tocante às crenças pessoais dos adolescentes. Em outras palavras, mostram-se insuficientes para fomentar uma análise crítica acerca dos modelos sociais hegemônicos, como a organização patriarcal da família e a divisão sexual de tarefas, e, consequentemente, insuficientes para promover, efetivamente, a prevenção da violência. É necessário incluir as discussões sobre questões de direitos humanos e, dentre elas, questões de gênero, no cotidiano escolar, por meio de políticas educacionais perenes que contemplem toda a trajetória escolar dos indivíduos, constituindo um canal formal de acesso à informação. Além disso, o discurso midiático exerce influência sobre a percepção dos adolescentes, de modo que se mostra indispensável sensibilizar a mídia, enquanto importante formadora de opinião e disseminadora de informações, sobre o problema da violência de gênero, para que adote uma abordagem não-sexista e não-violenta. |