Resumo |
As arboviroses constituem ameaça real, e mundialmente têm demandado esforços em saúde pública. As ações de prevenção dessas doenças são realizadas, no Brasil, pela Vigilância Ambiental, por meio da atuação dos Agentes de Combate a Endemias (ACE), profissionais da saúde que executam atividades de vigilância e controle de endemias no âmbito do SUS. Este estudo objetiva compreender a percepção dos ACE em relação aos desafios enfrentados na prática profissional durante o trabalho de campo nos sete municípios polo da Zona da Mata mineira. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cuja coleta de dados ocorreu no segundo semestre de 2017. O universo da pesquisa foi composto por municípios polo da Zona da Mata mineira: Manhuaçu, Cataguases, Muriaé, Ponte Nova, Viçosa, Juiz de Fora e Ubá. Estes municípios foram selecionados tendo como referência a presença e atuação da vigilância ambiental. Os sujeitos em análise foram os agentes de combate a endemias (n=65). Foram realizados sete grupos focais, um em cada município, com no máximo dez participantes utilizando um roteiro norteador elaborado pela equipe de pesquisa com base nos resultados de um estudo anterior, neste mesmo cenário. Os participantes foram esclarecidos quando aos objetivos do estudo e aceitaram participar mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) com permissão para uso do gravador de áudio. Após o aceite, a moderadora iniciou a entrevista com o seguinte questionamento: “Vocês consideram que existem desafios inerentes a prática do agente de endemias no trabalho de campo?”. Foi permitindo o livre discurso, com retomada do foco quando o mesmo se perdia e a averiguação da participação de todos. As entrevistas foram transcritas na íntegra e a análise dos dados foi orientada pela análise de conteúdo com auxílio do software Iramuteq para o processamento dos dados textuais por meio da classificação hierárquica descente (CHD). A atuação dos ACE é em contato direto nas residências da população e a recusa da visita impede a realização do trabalho de inspeção, prejudicando as ações de prevenção e controle das arboviroses, principalmente no combate ao Aedes aegpty, o foco das suas atividades. Os mesmos apontam como principal desencadeador a falta de credibilidade que possuem, além da alta rotatividade de profissionais, que faz com que os moradores não conheçam e reconheçam os agentes que trabalham na sua área, e consequentemente não criem vínculo. A fragilidade do processo de organização do trabalho do ACE e a falta de autonomia perante ao descumprimento das orientações de educação em saúde repercutem na persistência das endemias. Nesse sentido, percebe-se que é necessária uma reavaliação da atuação deste profissional nas vigilâncias e uma maior compreensão e valorização da população e gestores do papel fundamental do ACE na identificação de fatores de risco e de proteção à saúde. |