Resumo |
No Brasil, a década de 1970 marcou o surgimento dos coletivos formado por pessoas homossexuais. O intuito destes grupos era defender os direitos e dar visibilidade à comunidade LGBT. Um dos desdobramentos desta articulação política foi a criação de jornais voltados para a comunidade gay e seu objetivo era apresentar pautas políticas, discussões sobre diversos preconceitos além de outros temas de interesse homossexual. O Lampião da Esquina foi uma mídia alternativa que circulou durante 4 anos (1978-1981) e ganhou visibilidade pelas pautas abordadas e sua expressividade entre os homossexuais. Uma de suas seções chamava-se "Troca-Troca" e trazia classificados voltados para à busca de amizades e parceiros/as amorosos e sexuais, que foram responsáveis pela reconfiguração da sociabilidade e dos relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. Este espaço era o encontro das diferentes classes sociais, rendas, escolaridades, etnias, gerações e gêneros. Nos meios de informação e comunicação prevalece o poder simbólico. Isso significa que as interfaces do poder de cada sujeito, o local ocupado por ele durante a sua fala e o seu contexto são influenciadores da comunicação. A comunicação seria, neste sentido, uma troca simbólica envolvendo a produção, transmissão e recepção de símbolos. Estas características permitem compreender a formação da identidade criada a partir do uso dos recursos midiáticos. Identidade refere-se as expectativas de comportamento esperadas por um grupo sobre um indivíduo. A sua ação reflete o desejo por uma aceitação daquele grupo. Essa interação pode ser harmônica ou conflituosa. Uma vez que os atores sociais agem de acordo com os cenários em que estão imersos, eles são afetados por relações poder que orientam suas ações. A sexualidade seria um dos casos em que as relações de poder sobre os sujeitos é clara, uma vez que é fadada à proibição, à inexistência e ao mutismo. A privação sexual durante as falas seria uma forma de impedir que os indivíduos expõem seus discursos, tenciona a relação entre o poder e o saber. A homossexualidade, neste sentido, seria perseguida por desestabilizar as regras presentes nos discursos acerca do sexo, abalando a sua estrutura de poder e a compreensão de verdade absoluta. Esta pesquisa analisou as identidades dos sujeitos a partir dos discursos presentes em 96 anúncios de relacionamento publicados ao decorrer do ano de 1981. Trata-se de uma pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa e caráter documental. Seus resultados demonstram que o perfil hegemônico encontrado no período de análise demonstra um público gay masculino, majoritariamente jovem. Quanto aos papéis sociais uma performance pautada na valorização da escolaridade e em alguns casos das classes sociais. A discrição e a feminilidade masculina também são apresentadas como delimitadores. As mulheres procuram a feminilidade e a delicadeza. Foram identificados termos que mostraram a relação sexo-poder entre os sujeitos. |