Resumo |
O deslocamento populacional não é um fenômeno novo. Desde as mais antigas civilizações vemos esse processo acontecendo. Contudo, recentes acontecimentos têm feito com que uma grande parcela da população mundial seja forçada a abondar seu local de origem e buscar refúgio em países vizinhos. A crise socioeconômica e política que abala a Venezuela é um exemplo disso. A instabilidade de diversas ordens (econômica, política e social) tomou proporções alarmantes e tem impactado a América do Sul como um todo. Nosso país, em especial o estado de Roraima, vem recebendo diversos refugiados devido à proximidade espacial com seu vizinho, fato que vem repercutindo na mídia local. Nosso objetivo no presente trabalho foi investigar como a mídia da cidade de Boa Vista, em Roraima, tem representado esses refugiados, principalmente no que se refere ao fator criminalidade. Como o discurso das mídias muitas vezes é uma das únicas fontes de informação da população, acreditamos que uma análise das representações estabelecidas por ele corrobora para a percepção de estereótipos ou generalizações, contribuindo para uma reflexão acerca dessas representações, reflexão essa que pode ser útil para a prevenção de atos de violência e a garantia do exercício do direito dessas pessoas. Sendo assim, analisamos 17 notícias do jornal online “FOLHA WEB”, publicadas entre janeiro e março de 2018, que tinham em destaque no título a palavra “venezuelanos” e que relacionavam os imigrantes a algum ato criminoso ou à ação da polícia. A partir desse corpora, empreendemos uma busca para entender como essas notícias são utilizadas por instâncias hegemônicas para legitimar ações governamentais de contenção e higienização da sociedade. Como suporte teórico e metodológico, nos apropriamos dos modos de organização do discurso (CHARAUDEAU, 2008) e das reflexões em torno das relações de poder e dominação propostas por Van Dijk (2008), além de documentos oficiais como o Resumo Executivo sobre o perfil sociodemográfico e laboral da imigração venezuelana no Brasil, a Constituição Brasileira e relatórios fornecidos pela Acnur, agência especializada em refugiados da ONU. Percebemos que nas notícias são reforçados a ligação dos refugiados com o tráfico de drogas, o crime organizado e a prostituição. E que essa relação não é tratada como consequência da situação de vulnerabilidade em que se encontram, mas servem de justificativas para medidas como, por exemplo, o reforço das fronteiras do Brasil com a Venezuela e a triagem dos imigrantes que se deslocam para o Estado, cabendo ao Governo a decisão se o imigrante está apto ou não para entrar no Brasil. |