Resumo |
O processo de alcance dos direitos humanos não tem ocorrido de maneira uniforme para todos os países ou para todas as mulheres, que continuam ocupando setores caracterizados como “femininos” e mal remunerados, em todas as atividades econômicas, com baixa representação nos cargos políticos e de alta gerência, dentre outras lacunas consideráveis de gênero. Tal situação levou à inclusão da questão de gênero na agenda pública, especificamente, uma atenção para a questão da transversalidade de gênero; ou seja, a incorporação sistemática das questões de gênero em todas as instituições governamentais e políticas. A partir da perspectiva feminista, considera-se que através da análise da transversalidade de gênero da política, é possível conhecer como as mulheres resistem ou se adaptam aos problemas enfrentados na sua realidade cotidiana, que refletem em suas experiências pessoais e trajetória de vida. Entretanto, questiona-se se a transversalização de gênero nas políticas públicas consiste realmente em um elemento de planejamento e gestão da política na prática. Nesse contexto, o presente estudo buscou analisar o cenário e a transversalidade de gênero das Políticas Públicas Rurais (PNAE, PAA, BSM e PRONAF), a partir da perspectiva de lideranças e mulheres rurais, que estão inseridas na lógica operacional dos programas agrícolas direcionados para a agricultura familiar, na cidade de Paula Cândido/MG. Como procedimentos metodológicos, foi feito uso de pesquisa bibliografia e entrevistas semiestruturadas junto às mulheres beneficiárias de políticas/programas e à equipe técnica da EMATER, cujos dados foram analisados pela estatística descritiva e análise textual, com apoio do software Iramutec. Resultados evidenciaram que as mulheres se sentem, engajadas e articuladas dentro dos programas oferecidos ao nível local, que são mais voltados para as famílias. Pela evocação de palavras feitas pelas mulheres, as Políticas Públicas Rurais estão muito relacionadas à forma como a EMATER ajuda e auxilia as mulheres rurais. A transversalidade de gênero perpassa esse grupo de fatores, quando comentam sobre o seu acesso aos programas não ter sido influenciado pelo fato de “Ser Mulher”, demonstrando uma compreensão limitada sobre transversalidade reduzida ao acesso e participação da EMATER. Essas mulheres passam por dificuldades ao longo do processo de inserção a esses programas, mas tais problemas não estão relacionados às questões de gênero, mas sim, às dificuldades encontradas nas exigências documentais, pela limitada escolaridade. Conclui-se que, na percepção das mulheres, as políticas/programas são consideradas neutras, no que diz respeito à perspectiva de gênero. |