Resumo |
Apresenta-se uma experiência de implantação de melhorias de saneamento básico (sistemas descentralizados de esgotos sanitários) em uma comunidade quilombola - Córrego do Meio, zona rural do distrito de Airões, município de Paula Cândido, microrregião de Viçosa, Zona da Mata-MG. O projeto - “Implementação de tecnologias sociais para preservação do meio ambiente e acesso à água na comunidade quilombola do Córrego do Meio”, vem sendo desenvolvido desde 2016 no âmbito de um convênio firmado entre a Universidade Federal de Viçosa e a Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Estado de Minas Gerais e envolve dois grupos de extensão universitária ligados ao Departamento de Engenharia Civil da UFV: Engenharia Pública (EP) e SAUAI – Saneamento Uai! . O presente relato tem foco central nas atividades de mobilização social empreendidas com vistas à: (i) problematização da situação de saneamento na comunidade; (ii) discussão e seleção das soluções de saneamento adequadas à realidade local: (iii) seleção das famílias a serem atendidas; (ii) implantação das soluções de esgotamento sanitário. Técnicas de diagnóstico rápido participativo (caminhada transversal e mapeamento participativo), e oficinas pedagógico-participativas (com utilização de maquetes, cartazes e imagens didáticas) favoreceram a identificação e discussão dos problemas de saneamento e respectivas consequências ambientais e de saúde: destino inadequado de esgotos domésticos, contaminação de córregos e poços, comprometimento de usos múltiplos da água - irrigação e piscicultura de subsistência, dessedentação animal e consumo humano. Na sequência, foram realizadas várias oficinas, em que, com auxilio de cartilhas e cartazes, foram apresentadas para discussão diversas técnicas descentralizadas de esgotamento sanitário, entre as quais a comunidade selecionou aquelas consideradas adequadas às particularidades locais (adensamento populacional, relevo, tipo de solo, proximidade de cursos e fontes de água, custo, operação e manutenção): sumidouro (“fossa buraco”), fossa séptica + sistema alagado construído (“jardim filtro”); fossa evapotranspiradora (“fossa bananeira”). A seleção das 20 famílias a serem atendidas se deu também de forma participativa, tendo em conta critérios priorizados pelos próprios moradores: envolvimento no projeto, condições socioeconômicas; situações de risco ambiental e de saúde. Por fim, as soluções vêm sendo implantadas em processo de semimutirão: mão-de-obra contratada, além de pessoal arregimentado pelas famílias e voluntários dos grupos EP e SAUAI. Apesar de algumas dificuldades de mobilização no transcorrer de um processo longo e complexo, entende-se que os recursos pedagógico-metodológicos utilizados nas diversas etapas do projeto contribuíram efetivamente para o alcance dos objetivos maiores: troca de saberes técnico e popular, participação social, tomada de consciência, enfim empoderamento da comunidade no entendimento do, e na busca pelo, saneamento como direito humano. |