Resumo |
A produção de alimentos é altamente dependente da aplicação de fertilizantes fosfatados solúveis, como o superfosfato triplo. Consequentemente, a indústria de fertilizantes e a agricultura tornaram-se os maiores consumidores do recurso rocha fosfatada, o qual não é renovável. Como agravante, o setor agrícola apresenta pouca eficiência no uso do fósforo (P). Em outras palavras, a maior parte do P aplicado na forma de fertilizante não é recuperado pelas plantas, fica adsorvido ao solo e não chega ao prato da população. A baixa eficiência na adubação fosfatada é mais pronunciada em solos tropicais, devido ao elevado teor de argila, a natureza mineralogia e ao reduzido teor de matéria orgânica do solo. Essas características propiciam ao solo uma elevada capacidade de adsorção de P, reduzindo a disponibilidade deste nutriente às plantas. O uso de fertilizantes de liberação lenta (FLL) tem sido considerado uma estratégia promissora para melhorar a disponibilidade de nutrientes às plantas, minimizando perdas e potenciais impactos ambientais, além de melhorar a eficiência das adubações. Atualmente, os FLL são constituídos por polímeros sintéticos que aumentam o custo de produção. O biocarvão (BC) é um material com potencial para substituir os polímeros, devido possuir características físico-químicas interessantes, ao seu baixo custo e por ser uma tecnologia sustentável. Em estudo prévio foi sintetizado o superfosfato triplo (ST) revestidos com BC de eucalipto, aqui denominado organomineral. Em sistema de fluxo contínuo foi verificado que a taxa de liberação de P foi três vezes menor em relação ao fertilizante controle (ST). A fim de avaliar a eficiência agronômica do organomineral, um ensaio com plantas de milheto (60 dias) foi realizado no delineamento de blocos casualizados em esquema fatorial (2 × 2 × 5) com quatro repetições. Os fatores seguiram: dois solos (argiloso e arenoso), dois fertilizantes (ST e organomineral) e cinco doses de P (0; 20; 40; 80; 120 mg/dm3). As variáveis respostas foram a massa de matéria seca e o conteúdo de P nas plantas. Os dados coletados foram submetidos a análise da variância. Em resumo, a produtividade (p-value = p = 0,19) e o conteúdo de P acumulado nas plantas (p = 0,28) não diferiu entre os fertilizantes testados. Como era esperado, o P acumulado e a produtividade das plantas foram maiores no solo argiloso (p < 0,001), assim como, para as maiores doses de P (p < 0,001). Por outro lado, o desdobramento da interação (fertilizante × solo) demonstrou que o fertilizante organomineral quando aplicado em solo argiloso propicia maior recuperação de P pelas plantas (p= 0.013) quando comparado ao ST. Os resultados evidenciam que a redução da cinética de liberação de P permite melhor sincronia entre a demanda da planta e o suprimento fornecido pelo fertilizante organomineral, sobretudo em solos com maior capacidade tampão de P. Além disso, demonstra o potencial do biocarvão em tornar a agricultura tropical mais sustentável. |