Resumo |
Publicado em 2014, o romance Bach, do autor português contemporâneo Pedro Eiras, estrutura-se em quatorze capítulos de gêneros discursivos distintos que abordam temas que dialogam, em variados níveis, com os capítulos seguintes e anteriores. Ademais, apesar de dar titulo à obra, o compositor alemão barroco não protagoniza nenhum desses capítulos, o que também levanta discussões sobre a natureza temática da obra. Portanto, esta pesquisa procura estudar o processo de composição da obra para compreender tanto sua constituição formal quanto sua abordagem temática. Para alcançar esse objetivo, realizamos uma revisão bibliográfica sobre o dialogismo – tendo em vista que todo discurso é dialógico, além dos diálogos explícitos entre os capítulos – e sobre as tendências da escrita literária do pós-modernismo – estética perceptível em elementos da obra. Buscamos, portanto, textos de Mikhail Bakhtin, para dialogismo, e de Linda Hutcheon e Ana Paula Arnaut, para o pós-modernismo. Para realizar a análise crítica da obra foram explorados conceitos como enunciado concreto, dialogismo, polifonia, intertextualidade, bem como os processos da escrita literária que revisita a História e apresenta novas possibilidades por meio da obra Bach. Além de compreender a produção estrutural da obra, foi necessário compreender quais as relações da obra com Johann Sebastian e sua música, o que nos levou a perceber que a abordagem temática de um Bach que está presente como uma elisão, uma marca d’água no texto literário, também é elemento essencial na construção narrativa da obra. Por fim, confirma-se que Bach (2014) é um romance que se insere nas tendências pós-modernas conforme as teorizações retomadas e explora, por meio de inúmeros recursos, a reflexão do fazer literário, principalmente em relação aos fatos históricos e de sua proximidade com a verdade. Apesar das inúmeras possibilidades interpretativas que uma obra aberta, como Bach, pode oferecer ao leitor, abordamos, neste trabalho de análise crítica, a composição narrativa dialógica e a reflexibilidade sobre o processo de escrita literária. |