Resumo |
As Instituições de Ensino Superior (IES) surgem no Brasil com orientação profissional elitista e para manutenção dos privilégios de pequena parcela da população do país. Tal cenário ainda é preponderante e, associado a isso, alguns cursos vão se conformando e estabelecendo como de maior prestígio por oferecerem melhores remunerações e/ou pelo reconhecimento social em função do título. A veterinária pode ser considerada um curso de prestígio e está associada com duas áreas que carregam fortes traços elitistas, a saúde e a agrária, o que por sua vez determina as vivências dos estudantes em seus percursos formativos e influencia suas escolhas profissionais. Essa pesquisa procurou refletir sobre a formação profissional em medicina veterinária a partir dos caminhos percorridos pelos estudantes durante a graduação, suas experiências prévias e escolhas profissionais. Foram realizadas entrevistas individuais (30) e grupos focais (5) com estudantes onde foram tratados os temas: interesse pelo curso e instituição, escolha profissional (inicial e atual), vivências nas atividades curriculares e extracurriculares. Os dados estão sendo sistematizados e tratados pela análise de conteúdo. Dentre os entrevistados, a maioria era de pessoas brancas (43%), mulheres (73%), com renda familiar abaixo de quatro salários mínimos (53%), que cursaram a maior parte do ensino básico em escola pública (53%) e acessaram o curso de graduação através das diversas modalidades de cotas (43%). Em relação às áreas de atuação pretendidas pelas/os estudantes, destacam-se: manejo e conversação de animais silvestres, clínica e cirurgia de pequenos, produção animal e clínica e cirurgia de equinos. A análise preliminar dos relatos das entrevistas vem apontando que os/as graduandos/as identificam os docentes mais como pesquisadores do que como educadores, visto que os próprios docentes priorizam a pesquisa em suas atividades acadêmicas. As vivências dos graduandos/as são marcadas por insatisfações, por exemplo, na relação discente-docente, fortemente hierarquizada e que reproduz opressões de gênero, raça, classe e orientação sexual. É unânime o sentimento de insatisfação também em relação ao modelo adotado de ensino-aprendizagem que marcadamente prioriza os aspectos teóricos do currículo e a falta de aparato metodológico que permita um processo de aprendizagem significativa por parte da/o estudante. Tanto a relação docente-discente, quanto modelo tradicional de ensino-aprendizagem, caracterizam a já bem conhecida educação bancária, debatida por Paulo Freire, implicando em uma formação profissional tecnicista e que se distancia de uma concepção de universidade como espaço de formação de sujeitos sensíveis às diferentes realidades sociais e comprometidos com a redução das desigualdades. |