Resumo |
Displasia renal é uma afecção incomum, congênita e hereditária, descrita como uma doença renal familiar em varias raças (Lhasa Apso, Shih Tzu, Poodle e Soft-Coated Wheaten Terrier). É caracterizada por uma desorganização estrutural do parênquima renal ocorrido durante a embriogênese, levando a uma nefropatia crônica em indivíduos jovens, entre 4 meses e 2 anos de idade. O exame ultrassonográfico auxilia na identificação de alterações renais sugestivas da doença. O diagnóstico definitivo é realizado através de exame histopatológico. Este trabalho tem por objetivo relatar um caso sugestivo de displasia renal em cão. Uma canina, fêmea, Shih Tzu, com 9 meses de idade, foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa, com histórico prévio de vômitos, anemia e azotemia. Foi relatado emagrecimento progressivo e disorexia. O exame físico revelou desidratação 7% e mucosas hipocoradas. O hemograma mostrou anemia (hematócrito 13%) não regenerativa com grau mínimo de regeneração (contagem de reticulócitos 33.000 células/µl). A urinálise demonstrou baixa capacidade de concentração urinária (urina amarelo clara com densidade 1,007) e proteinúria. A perda proteica pela urina foi confirmada pela relação proteína:creatinina urinária (6,4). A bioquímica sérica revelou elevação dos níveis de fostatase alcalina (263 U/l), cálcio (14,25 mg/dl), fósforo (15,09 mg/dl) e azotemia (ureia 224,4mg/dl e creatinina 7,38 mg/dl). A pressão arterial sistólica aferida pelo método Doppler mostrou hipertensão (210 mmHg). À ultrassonografia observou-se perda acentuada da arquitetura interna no rim esquerdo e arquitetura não definida em direito, além de perda acentuada da definição córtico-medular em rim esquerdo. O exame histopatológico não foi recomendado devido ao quadro clínico do animal. O histórico, achados clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos levaram ao diagnóstico sugestivo de displasia renal com doença renal avançada (estágio IV). Desta forma, foi prescrito tratamento paliativo a base de eritropoietina, antiemético (ondansetrona), protetor gástrico (omeprazol), inibidor da enzima conversora de angiotensina (benazepril), dieta, estimulante de apetite e ômega, com propósito de reduzir a progressão da doença e fornecer qualidade de vida. Com o acompanhamento do caso clínico apresentado pode-se concluir que a displasia renal deve ser considerada como possível diagnóstico em animais jovens, com sinais clínicos compatíveis com doença renal crônica e com predisposição racial. Por se tratar de uma doença congênita ou hereditária é importante evitar a reprodução e, desta forma, incidência da mesma. O diagnóstico definitivo nem sempre é possível, pois o quadro clínico na maioria das vezes não permite a realização de biópsia renal e a realização do histopatológico post mortem depende da autorização do proprietário. Entretanto, a ultrassonografia é sempre recomendada, pois auxilia na determinação do grau de comprometimento renal e do prognóstico. |