Resumo |
Panchelonioidea (Cheloniidae, Dermochelyidae, Protostegidae e Toxochelyidae), grupo que inclui as tartarugas marinhas atuais, teve seu pico de diversidade no Cretáceo. Neste trabalho, analisamos a morfologia craniana das quatro famílias e quantificamos a variação observada por meio de morfometria geométrica, utilizando marcos anatômicos digitalizados em duas vistas: dorsal e ventral. As análises exploratórias dos dados consistiram em uma Análise de Componentes Principais (PCA) para ordenação dos dados a partir da matriz de resíduos de Procrustes e comparações utilizando distâncias de Procrustes e energia de deformação de grades, visualizando as diferenças entre configurações por meio de grades de deformações (Thin-Plate Splines). A comparação entre espécies viventes e fósseis permitiu fazer inferências sobre os hábitos alimentares e habitat de espécies há muito extintas. Cheloniidae e Dermochelyidae apresentaram morfologia craniana associada ao ambiente pelágico – como olhos lateralizados e entalhe raso no parietal – mais evidente do que em Protostegidae e Toxochelyidae. Especulamos a possibilidade de que Archelon ischyros e Protostega gigas, duas das maiores tartarugas da família Protostegidae, possam ter ocupado um nicho ecológico similar ao que hoje é ocupado por Eretmochelys imbricada (Cheloniidae), predadora de esponjas e corais. A família Protostegidae extinguiu-se antes do auge de diversidade de Cheloniidae, sendo assim possível considerar uma possível substituição de nicho, além do fato de compartilharem um crânio afilado e estreito. Erquelinnesia (Toxochelyidae) apresenta o crânio mais alargado, interpretado como um forte sinal de durofagia; e Ctenochelys acris (Toxochelyidae) e Osteopygis emarginatus (Cheloniidae) apresentaram morfologia intermediária entre as famílias Toxochelyidae e Cheloniidae. Quando comparadas as formas médias das quatro famílias, verificou-se que Cheloniidae e Dermochelyidae foram as famílias morfometricamente mais próximas em ambas as vistas (menores distâncias de Procrustes). De acordo com os resultados podemos sugerir que existem outras fontes de variação da morfologia craniana além da ancestralidade comum. Dessa forma, esse trabalho ilustra como ao analisar espécies fósseis e viventes permite uma compreensão mais completa sobre a variação e evolução da morfologia craniana de um grupo, possibilitando fazer inferências paleoecológicas e evolutivas mais acuradas do que interpretações paleoambientais baseadas somente em dados de sedimentologia das rochas nas quais os fósseis foram encontrados. |