Resumo |
A criptococose é uma infecção fúngica sistêmica, causada por Cryptococcus sp., podendo acometer várias espécies animais, incluindo humanos. Com distribuição cosmopolita, a transmissão dá-se pela inalação de esporos, advindos de fezes de aves infectadas e que se desenvolvem em matéria orgânica no meio ambiente. Ao atingir os pulmões o microorganismo tem acesso à circulação, podendo acometer vários órgãos. O objetivo desse trabalho é relatar um caso de criptococose canina atendido no HOV/DVT-UFV. Um cão PitBull, fêmea de 02 anos de idade, deu entrada no serviço com queixa de hipodipsia, hiporexia e alteração da marcha com evolução de uma semana. O exame físico revelou aumento de volume indurado na região nasal, no antímero esquerdo, com secreção nasal, discreta dor em região cervical, ataxia com fraqueza de todos os membros e midríase bilateral. O exame citológico da secreção nasal revelou estruturas leveduriformes compatíveis com Cryptococcus sp. O tratamento foi iniciado com o fluconazol 10mg/kg/BID, porém o animal apresentou piora progressiva dos sinais neurológicos, desenvolvendo também sintomas respiratórios, sendo admitida para a internação. Apesar do intensivismo, houve piora da condição clínica, vindo a óbito. Na necropsia foram observados esplenomegalia, congestão e edema pulmonares associados à enfisema compensatório. Na cavidade nasal encontrou-se conchas nasais esquerdas lesionadas e a presença de criptococomas. A histologia revelou em traquéia, encéfalo e seios nasais, discreto infiltrado mononuclear associado a abundante quantidade de estruturas fúngicas arredondadas, ou em brotamento, com halo claro, com aspecto de “bolha de sabão”, compatíveis morfologicamente com Cryptococcus sp. A criptococose canina é menos frequente quando comparada aos felinos. Os sinais apresentados pela paciente condizem com os descritos na literatura, com acometimento neurológico e respiratório. O acometimento da cavidade nasal é típico em cães e gatos, diferentemente dos humanos. A anamnese não revelou contato com aves e o animal não estava debilitado, com malignidades ou em terapia imunossupressora para suscitar a suspeita de infecções oportunistas. Portanto os fatores desencadeantes ou predisponentes nesse caso são indeterminados, embora sabe-se que a doença possa ocorrer também em animais imunocompetentes. A idade de acometimento neste relato confere com a literatura, isto é adulto jovem, com menos de 4 anos, mas a raça Pitbull não é citada como predisponente. O diagnóstico firmou-se pelos achados citológicos e histopatológicos. Não foram realizados sorologia ou cultivo fúngico para diferenciação da espécie envolvida, no entanto as duas espécies mais patogênicas são o C. neoformans e o C. gattii. Concluindo, relata-se um raro caso de criptococose canina, com sinais clínicos compatíveis com a literatura, cujo diagnóstico rápido foi alcançado pelo exame citológico, mas apesar do tratamento antifúngico indicado, houve rápida evolução com desfecho fatal. |