Resumo |
O reconhecimento do campo da cultura no Brasil, delineado em meados da década de 1980, culminando com a inserção do direito à cultura pela Constituição de 1988, gerou significativas transformações no setor cultural. A ampliação da participação da iniciativa privada, a entrada de novos atores no cenário e a reestruturação do mercado cultural torna o setor mais complexo, fazendo surgir novas organizações e profissionais que precisam estar cada vez mais preparados. Nesse contexto, foi pertinente verificar, a partir das figuras do produtor e do gestor cultural, que valores se encontram impregnados nessas organizações. Utilizou-se do Inventário de Valores Organizacionais - IVO, que permitiu identificar a inserção desses valores, quais deles são mais importantes e sua força no quotidiano da organização, bem como que outros valores foram trazidos por essas organizações. Participaram da pesquisa empresas situadas em municípios mineiros, tendo como sede Universidades Federais, por abrigarem pessoas de culturas diversas e de todo o país. Trata-se de pesquisa explicativa e descritiva, utilizando-se de um questionário, aplicado online por meio da plataforma Google Forms, com 37 questões em formato de escala Likert, variando de 0 a 6 nos níveis – desejável e real – para cada pergunta. A análise dos dados envolveu estatísticas descritivas (médias e desvio-padrão), analisados por meio do Teste de Diferença entre Médias (Teste t) com 95% de confiança, por meio do software Stata. Como resultado verificou-se que quando comparada à média total dos valores desejáveis versus média total dos valores reais houve diferença significativa entre os resultados (p<0,5). Todavia, observou-se que o nível de significância foi maior em relação aos valores desejados do que aos reais, demonstrando que nem sempre o que se idealiza, se concretiza na prática. Analisaram-se também as dimensões bipolares propostas por Tamayo, Mendes e Paz (2000). Na dimensão Harmonia versus Domínio constatou-se que os valores (real e desejado) são praticados igualmente (p>0,05). Todavia, os gestores gostariam que os valores pertinentes à harmonia se destacassem mais. Na dimensão Igualitarismo versus Hierarquia as médias foram consideradas iguais, enquanto que na Autonomia versus Conservadorismo a autonomia foi vista como tão importante quanto o conservadorismo em termos de desejo (p>0,05). A pesquisa revelou, pois, que às organizações culturais não se aplicam os valores estudados de maneira igual. Valores relacionados à autonomia e harmonia foram mais relevantes do que valores de domínio e conservadorismo. Criatividade, ousadia, ética, profissionalismo e resistência cultural foram outros valores levantados como importantes não pertencentes à escala adotada. Este trabalho buscou ampliar o entendimento sobre organizações culturais, contribuindo de maneira prática e teórica para a gestão social dessas organizações, despertando assim, o interesse em estudar valores específicos do setor. |