Resumo |
O continente africano, com toda sua extensão e pluralidade étnica, linguística, histórica e religiosa é concebido, não raras vezes, como um todo unificado. Essa visão reduzida se sustentou durante o processo de colonização dos países africanos e dessa história de dominação surgiu uma África inventada pelo ocidente, com história única, definida e contada pela perspectiva eurocêntrica. Tendo em conta o panorama exposto, apresentamos uma investigação, assentada nos estudos pós-coloniais, sobre a Literatura São-tomense e os processos identitários. Para tanto, elegemos a obra Histórias da Gravana (2011), da escritora Olinda Beja, com o objetivo de investigar na sua narrativa a configuração de uma identidade são-tomense. Analisaremos, mais especificamente, as relações entre memória, oralidade e identidade cultural em alguns contos da referida obra. Esta pesquisa tem caráter bibliográfico, com uma proposição metodológica analítico-descritiva, e fundamenta-se nos pressupostos teóricos da Teoria Pós-colonial. Consideramos que o conjunto de contos que compõe Histórias da Gravana (2011) dissemina a cultura de um povo que se expressa por meio da variedade de línguas, dos costumes, das crenças, dentre tantos outros relevantes aspectos que se relacionam com a identidade cultural de São Tomé e Príncipe. Fazendo refletir também sobre a história do país, as narrativas denunciam os desmandos do sistema colonial e permitem o protagonismo daqueles que foram oprimidos e colocados à margem nesse sistema. Nas narrativas de Histórias da Gravana (2011), Olinda Beja deixa o seu legado de são-tomensidade. Concluímos, desse modo, que a Literatura, para além dos seus objetivos linguísticos e estéticos, é um instrumento político. Seguindo Mata & Padilha (2007), “é nosso objetivo contribuir para que se consolidem a urgência e a necessidade do resgaste de vozes por tanto tempo deixadas de lado pela ideia de que só o centro, nos seus vários desdobramentos, tinha direito a uma fala audível” (p. 16). |