Resumo |
INTRODUÇÃO: O gênero Trypanosoma é tradicionalmente relacionado à moléstia de Chagas nas Américas (Trypanosoma cruzi) e à doença do sono na África (Trypanosoma brucei). Sem embargo, outras espécies do protista têm produzido processos infecciosos no Homo sapiens sapiens, caracterizando as condições denominadas – genericamente – de Tripanossomíases Humanas Atípicas (THA). OBJETIVO: O escopo da presente comunicação é revisar os aspectos etiológicos e epidemiológicos das principais THA, destacando os casos notificados mundialmente. MÉTODOS: Procedeu-se revisão de literatura, dos últimos 20 anos, nas bases de dados PubMED e Scopus, com os termos: “atypical human trypanosomiasis” e “trypanosomes and zoonosis”. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Do total de 38 artigos recuperados, 19 estudos foram selecionados para compor a presente revisão, por enfocarem os aspectos etiopatológicos e clínicos das THA. As tripanossomíases animais possuem como agentes etiológicos, principais, Trypanosoma congolense, Trypanosoma evansi, Trypanosoma lewisi e Trypanosoma vivax, os quais podem, eventualmente, infectar o homem, desencadeando situações que incluem amplo espectro clínico: desde quadros assintomáticos até manifestações clínicas graves, com evolução para a óbito. De 1917 até 2015 vinte casos de THA foram registrados, sendo 01 causado por T. vivax, 04 por T. b. brucei, 06 por T. evansi, 01 por T. congolense, e 08 por T. lewisi. Na última década observou-se um aumento do número de casos notificados e publicados. Embora exista um incremento da detecção – devido à melhoria das técnicas de diagnóstico moleculares – os casos de THA ainda parecem muito subestimados. As situações descritas foram notificadas em regiões do continente africano e asiático, caracterizando-se como um problema em populações de países pobres e em desenvolvimento. Alguns destes casos registrados foram transitórios; no entanto, dois pacientes morreram. A espécie T. lewisi infecta roedores, com pouca patogenicidade e distribuição global; casos de infecções, por essa espécie, relatados em bebês na Tailândia e Índia, em 2007, sugerem que a associação de pulgas (ectoparasito oportunista) e roedores apresentam relevância como fatores de risco para infecção humana por este agente. Em animais de médio e grande porte, há descrição de adoecimento produzido por T. congolense e T. vivax, agentes transmitidos por moscas tsé-tsé (gênero Glossina). A espécie T. envansi, por sua vez, é observada em animais domésticos e silvestres. CONCLUSÃO: A subnotificação e a dificuldade de diagnóstico nas áreas onde ocorrem essas enfermidades requerem uma ênfase na descrição e nos estudos dessas condições mórbidas, a fim de oferecer subsídio para prevenção e tratamento de possíveis infectados, além de responder questões como se tais condições sinalizam para um novo grupo de zoonoses emergentes ou se representam apenas um “acidente biológico”. |