Resumo |
INTRODUÇÃO: O sistema prisional brasileiro tradicional é marcado pelo punitivismo, em detrimento da reinserção dos egressos na sociedade. Desse modo, o presídio torna-se, na verdade, um instrumento de perpetuação da criminalidade, em vez de combatê-la – nota-se que grande parte da população privada de liberdade é composta por reincidentes. Entretanto, quando se pensa em subverter essa lógica, depara-se com barreiras, tais quais a falta de opção de atividades escolares, cursos profissionalizantes e ofícios no ambiente prisional. Nesse sentido, a compreensão das necessidades da população privada de liberdade é fundamental para se produzir propostas de intervenção coerentes com a complexidade inscrita na ideia de reintegração social. Assim, para a produção de quaisquer práticas voltadas para a população privada de liberdade, é preciso conhecer suas reais necessidades, seus desejos e suas perspectivas de futuro, e também a forma como significam sua realidade. Questiona-se: quais as necessidades e os desejos das pessoas privadas de liberdade? OBJETIVO: conhecer as necessidades da população privada de liberdade como base para propostas de cuidado no ambiente prisional. MÉTODOS: Pesquisa qualitativa cujos participantes foram 18 pessoas que vivem privadas de liberdade em um presídio no interior de MG. Os dados foram coletados nos meses de agosto a dezembro de 2017 mediante entrevista aberta orientada por roteiro semiestruturado. Realizada análise de conteúdo. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética sob o parecer: CEP/UFV 1.668.556 RESULTADOS: As intervenções no ambiente prisional propostas pelos entrevistados da pesquisa permeiam entre: o acesso à educação, seja por meio de mais vagas na escola, ou de mais oportunidades de cursos profissionalizantes; a opção de se desenvolver um ofício, sobretudo para o regime fechado e a instauração de atividades diversas para entretenimento, tais quais mais visitas para conversar, atividades físicas e artísticas, para se fugir da rotina monótona e cuidar, de certa forma, da saúde mental dessas pessoas. Sobre os cursos (básicos e profissionalizantes) e as opções de trabalho dentro do presídio, ainda, foi bastante citado que as vagas são escolhidas de forma arbitrária, de modo que as mesmas (poucas) pessoas costumam ser contempladas, enquanto a outras seguem sendo negadas essas oportunidades. CONCLUSÃO: Compreender as necessidades e os desejos das pessoas privadas de liberdade possibilita aos trabalhadores envolvidos no cuidado dessa população pensar em propostas intersetoriais e interdisciplinares de intervenção que possibilitem, de fato, a reintegração social. A saúde – em conceito ampliado – dessas pessoas depende dessa possibilidade de se reintegrar, o que demanda estudos mais profundos de suas necessidades, bem como como políticas de atenção específicas para subverter a lógica meramente punitivista do sistema prisional. |