Resumo |
INTRODUÇÃO: considerando as desigualdades sociais presentes na sociedade atual, é necessário que os profissionais de saúde saibam moldar suas práticas assistenciais voltadas para a integralidade e justiça social, a fim de prevenir a ocorrência de iniquidades em saúde. OBJETIVO: compreender as experiências e expectativas de enfermeiros da Atenção Primária à Saúde (APS) no que tange à formação para a atuação sobre as desigualdades sociais em saúde (DSS). MÉTODO: pesquisa qualitativa, do tipo pesquisa-ação, realizada com enfermeiros da APS de um município de Minas Gerais. A coleta de dados se deu em duas etapas: a primeira, nos meses de julho e agosto de 2017, se deu por meio de um roteiro de entrevista com questões abertas, realizada individualmente, com o intuito de compreender a atuação do enfermeiro para atuar sobre as DSS. A segunda etapa ocorreu nos meses de abril e maio de 2018, através de quatro oficinas, com o objetivo de formar competências no enfermeiro para atuar sobre as DSS, sendo a coleta de dados realizada por meio de observação não participante e grupo focal. Os dados foram analisados por meio da técnica de análise de conteúdo de Bardin e em consonância com a literatura pertinente à temática. O projeto foi aprovado pelo CEP da Universidade Federal de Viçosa, inscrito sob o Parecer nº 2.058.819, de 11 de maio de 2017. RESULTADOS: na primeira etapa identificou-se que a desarticulação e ausência de comunicação entre a Rede de Atenção à Saúde (RAS), associada a situações encontradas no território, como a baixa escolaridade dos usuários, contribuem para a oferta de um cuidado fragmentado e limitado, onde o enfermeiro, muitas vezes, realiza ações assistencialistas com o propósito de amenizar situações emergenciais que surgem em seu cotidiano profissional. Nesta perspectiva, este profissional vivencia rotineiramente sentimentos que manifestam-se em sua vida pessoal e profissional, decorrentes da complexidade e intensidade das questões que experienciam. As competências construídas na segunda etapa permitiram a identificação dos conhecimentos, habilidades e atitudes para uma atuação mais assertiva do enfermeiro sobre as DSS, de modo a superar com competência os desafios inerentes ao enfrentamento das questões sociais na saúde. CONCLUSÕES: evidenciou-se a alta complexidade inscrita na APS, que apesar de contar com uma baixa densidade tecnológica exige dos profissionais de saúde o desenvolvimento de competências que extrapolam o arcabouço técnico-científico que comumente desenvolvem em seus processos de formação, sendo necessário uma reavaliação do processo formativo do enfermeiro. Além disso, as dificuldades relacionadas à vivência das desigualdades sociais pelos participantes do estudo dialogam com as vivenciadas pelo próprio SUS, fazendo-se necessária a realização de outras investigações com o objetivo de compreender a atuação da RAS no enfrentamento das desigualdades sociais em saúde. |