Resumo |
A flora rupícola é um importante componente dos afloramentos rochosos, característicos de Campos Rupestres quartzíticos e ferruginosos. O ambiente dos afloramentos seleciona as espécies adaptadas às suas condições, geralmente estressantes como excesso de luz e vento e carência de água e solo, podendo resultar em ilhas de vegetação xerófita em meio à matriz de vegetação mesófita. As comunidades rupícolas são bem estudadas nos trópicos, mas pouco se sabe sobre sua distribuição espacial nos diferentes microhabitats das rochas. Neste trabalho, apresentamos uma análise da composição florística em área de Campo Rupestre quartzítico inserida no Domínio Atlântico, comparando a riqueza e as formas de vida predominantes nas faces superior, lateral e base de afloramentos, uma vez que essas propiciam condições diferenciadas para o estabelecimento da flora. O levantamento florístico foi efetuado de agosto de 2017 a janeiro de 2018 para observação e coleta dos espécimes férteis. A identificação foi realizada em comparação com exemplares identificados em herbário, envio de fotos aos especialistas e com base na literatura taxonômica específica. Em uma área de 1300 m², foram identificadas 79 espécies, sendo 70 Angiospermas e 9 Samambaias. As famílias mais ricas foram Orchidaceae (10 espécies), Bromeliaceae (6), Poaceae (5) e Asteraceae (5), seguidas das famílias de Samambaias: Polypodiaceae (3) e Hymenophyllaceae (3). A forma de vida mais representativa foi a Hemicriptófita, com 44% de frequência de ocorrência, composta majoritariamente por Monocotiledôneas. Para as Eudicotiledôneas, a forma de vida predominante foi a Fanerófita (33%), o que indica a influência da vegetação matricial sobre as ilhas de Campo Rupestre representadas pelas Hemicriptófitas. A face superior apresentou maior riqueza, com 23 espécies exclusivas; seguida da lateral e base dos afloramentos, com 10 e 9 espécies exclusivas respectivamente. Das espécies registradas para a área, 3 encontram-se ameaçadas de extinção e 2 são endêmicas dos Campos Rupestres de Minas Gerais. A variedade de microhabitats da face superior e o díficil acesso à mesma viabilizam a ocorrência de um maior número de espécies. A face lateral apresenta alta riqueza de microhabitats, no entanto, o desenvolvimento da comunidade rupícola é comprometido devido ao uso dessa face para escalada esportiva. O ambiente sombreado e úmido da base dos afloramentos favorecem o estabelecimento de Cyperaceae e Eriocaulaceae, bem como de espécies invasoras. As diferenças na composição florística e riqueza específica entre faces sob pressões antrópicas distintas evidenciam a necessidade de um manejo adequado objetivando conservação da comunidade rupícola. |