Resumo |
Javier Marías (1951), um dos escritores espanhóis contemporâneos mais conhecidos e um dos intelectuais mais destacados tanto dentro como fora de seu país, é o autor das novelas Corazón tan blanco (1992) e Mañana en la batalla piensa en mí (1994), que representam o auge criativo do autor e afirmam a construção de um estilo pessoal e inconfundível dentro do panorama literário peninsular. Levando em consideração a importância de sua narrativa para o pensamento artístico e literário espanhol, o presente trabalho tem como objetivo apresentar as discussões iniciais de um projeto de mestrado, iniciado em março deste ano, que tem por base a análise da consolidação do estilo do escritor a partir das referidas novelas. No que toca à metodologia, a mesma teve por base, em um primeiro momento, a leitura das obras às quais se somou um considerável número de textos críticos e teóricos que permitiu não só entender o contexto histórico e cultural no qual se insere a novelística de Marías, como também identificar o diálogo com trabalhos do escritor Juan Benet e com a tradução que o próprio escritor fez do livro La vida y las opiniones del caballero Tristram Shandy, de Laurence Sterne. Logo, nos dedicamos à análise de elementos que nos permitiu estabelecer vínculos (a nível comparativo) entre as duas novelas. O primeiro ponto que faz-se necessário destacar é a existência de uma voz narrativa que domina os discursos. Outro elemento que cobra especial importância é o tempo, que aparece amplificado para que situações paralelas coexistam e se entrelacem nas digressões a partir das quais o narrador vai apresentando os temas e construindo intensas reflexões interiores que rompem qualquer possibilidade de um contrato de leitura realista tradicional. Destacam-se como forças motrizes dos relatos a mentira, o silencio, o segredo, o oculto, o fingimento, o engano e, principalmente, o poder da palavra que se diz e se escuta, fio condutor das relações dizer/escutar, saber/não saber, falar/calar-se que vão desdobrando-se ao longo das narrativas. Se em Corazón tan blanco admitimos como palavra-chave “no decir la palabra” e a presença do segredo como um dos temas centrais, em Mañana en la batalla piensa en mí poderíamos pensar no engano e no tema da “muerte sorpresiva” como os grandes motores narrativos. Cabe mencionar ainda a importância de Shakespeare na constituição do estilo mariasiano. Mañana en la batalla piensa en mí é um verso da obra Ricardo III e Corazón tan blanco provém de um verso de Macbeth: é na exegese shakespeariana que Marías propõe uma reflexão sobre a impossibilidade de alcançar a verdade sem a construção mediante a palavra. A modo de conclusão, destacamos que as novelas aqui comentadas afirmam a genialidade de um escritor que assumiu a linguagem como expressão máxima para a literatura. |