Resumo |
Insetos necrófagos são expostos a uma alta densidade de microrganismos potencialmente prejudiciais enquanto exploram carcaças. Durante o ápice da decomposição, quando os insetos estão mais ativos, os exsudatos cadavéricos permeiam o solo e aumentam a abundância e atividade desses microrganismos, constituindo uma ameaça sobretudo aos insetos que se alimentam e se desenvolvem na carcaça, como os besouros Oxelytrum discicolle (Silphidae). Estes besouros apresentam estilos de vida muito diferentes em suas fases de vida: enquanto os adultos visitam carcaças em busca de alimento (larvas de Diptera), parceiros e sítio para oviposição, suas larvas eclodem e permanecem na carcaça, se alimentando, até final do último ínstar, em contato direto com potenciais patógenos. Estão, portanto, adultos e imaturos, submetidos à diferentes riscos de adquirir infecção. Embora sejam componentes importantes do ecossistem e de interesse para a ciência forense, aspectos relevantes sobre besouros necrófagos carecem de investigações aprofundadas, como o estudo sobre o investimento em defesas imunes. Assim, investigamos as defesas fisiológicas contrastando com o risco de adquirir patógenos em cada uma das fases de vida de O. discicolle. Para testar se existem diferenças no investimento em defesas imunológicas de adultos e imaturos (larvas), realizamos ensaios enzimáticos com a secreção anal. A secreção dos adultos foi obtida através da manipulação, uma vez que o inseto expele a secreção ao ser perturbado. Para obter a secreção das larvas (de primeiro e terceiro ínstares), elas foram individualizadas, limpas e mantidas separadamente em contato com tampão PBS por uma hora. Então, 1 µL desta solução foi adicionado a orifícios em placas de Petri com células de Micrococcus lysodeikticus ATCC® 4698 para verificar a atividade de lisozimas. Após 48 h, nós observamos que: (i) a secreção dos adultos não apresentou atividade lítica; (ii) a secreção das larvas de primeiro ínstar apresentou atividade lítica moderada; (iii) a secreção das larvas de terceiro ínstar apresentou atividade lítica mais intensa (o dobro das larvas de primeiro ínstar). A ausência de atividade lítica nos adultos pode estar associada à relativamente baixa exposição desses indivíduos ao ecossistema cadavérico. Já as larvas, que estão continuamente expostas à alta de densidade de microrganismos do entorno da carcaça durante seu desenvolvimento, tiveram atividade lítica associada às suas secreções. Esta atividade lítica de lisozimas favorece a defesa do organismo contra bactérias gram-positivas, mas outros componentes biológicos dessa secreção precisam ser investigados a fim de compreender integralmente sua função. Adicionalmente, futuros ensaios serão conduzidos com foco em outros parâmetros imunológicos e na suscetibilidade a diferentes patógenos para entender a resistência observada nas larvas. |