Resumo |
O objetivo do trabalho é apresentar, a partir de um relato de experiências, a análise do percurso formativo de quatro alunas provenientes de camadas populares, estudantes de Pedagogia e que integram o Programa de Educação Tutorial (PET/EDU) da Universidade Federal de Viçosa. Analisaremos como as diversas formas de opressão se operam no cotidiano da escola e da universidade, especialmente considerando-se a questão de gênero articulada à compreensão da luta de classes. Para tanto, esse trabalho será dividido em três momentos: no primeiro momento será realizado o embasamento teórico utilizando autores como Saffioti (1976) e Beauvoir (1949), que abordam as questões históricas e sociais acerca da diferença de gênero, pois as mulheres por muito tempo foram submissas, ficando apenas a cargo dos afazeres nos lares. Com o avanço do sistema capitalista, a necessidade de essas trabalharem para auferir uma renda tornou-se premente, mas isso não se reverteu necessariamente na valorização dessa mão-de-obra. Saffioti (1976, p.84) constata que “na medida em que a mulher foi, em sua expressão, ‘o primeiro ser humano a sofrer a escravidão’, antes mesmo que esta existisse como fundamento de um modo de produção, a mulher carrega o pesado fardo da tradição de subalternidade.” Na educação, avançou-se especialmente com a ampliação do acesso das mulheres das camadas populares à educação superior, pois houveram momentos em que nem frequentar a escola podiam. No Brasil enfrentaram várias dificuldades para conseguirem ter acesso ao ensino, pois por muito tempo a escolarização era exclusividade dos homens. No segundo momento vamos discorrer, então, sobre a questão das mulheres no ensino superior, a partir da nossa percepção enquanto integrantes do PET/EDU, um grupo que objetiva desenvolver atividades conjugadas de pesquisa, ensino e extensão, e que volta seu olhar para estudantes de camadas populares e para a questão da opressão que sofrem alguns grupos, sendo um deles as mulheres. Nesse sentido, iremos discorrer sobre as desigualdades advindas da questão do gênero e as dificuldades das mulheres para ingressar e/ou permanecer no ensino superior, destacando as formas de lutas e as resistências que enfrentam, refletindo especialmente a partir de nossas próprias experiências pessoais de escolarização. Ambos momentos embasam a realização do terceiro, onde relatamos nossas experiências em relação a etnias diferentes, pois somos quatro estudantes, mulheres, provenientes de camada popular, sendo duas negras, uma parda e uma branca, e cursamos o mesmo período do curso Pedagogia, além de nos preocuparmos com as questões sociais aqui apresentadas. Demostraremos que ainda há um conjunto de fatores sociais, culturais e econômicos que contribuem para manter a mulher em uma condição inferior na sociedade, um fato que se agrava ainda mais quando se trata de mulheres provenientes dos meios rurais ou das periferias dos centros urbanos. |