Resumo |
Discriminação e supressão de direitos nas escolas e instituições de ensino superior corroboram para a evasão escolar de pessoas trans no Brasil. De fato, o sistema educacional parece não estar preparado para lidar com as diferenças e trata assuntos como a transexualidade de forma velada e/ou como um tabu (NERY, 2015). Isso parece reforçar a ideia de que ser trans é anormal e o conhecimento sobre esse tema acaba não sendo compartilhado nas escolas que, em certa maioria, compactuam com valores conservadores. É sobre essa temática que esta pesquisa busca se vincular por meio da análise dos comentários das(os) internautas, leitoras(es) de um jornal online acerca de uma notícia publicada em novembro de 2017 que recebeu o seguinte título: “Adolescente trans é orientada a deixar escola, mãe desabafa e Sesc volta atrás”. Segundo o portal Folha, o qual publicou o texto noticioso, a razão alegada ao indicar a porta de saída do colégio para a garota tem a ver com a dificuldade da instituição em lidar com as atuais “necessidades” dela, já que a estudante passou pela transição de gênero há um ano. Depois disso, ela começou a utilizar batom e unhas pintadas e também a reivindicar (amparada pelo decreto federal de Nº 8.727, 2016) o tratamento no feminino nas formalidades da escola, como na lista de chamadas. Nesse sentido, é possível perceber que a linguagem é fundamental no processo de reconhecimento desses corpos, dessas identidades trans. É por meio dela que os discursos são produzidos tanto no âmbito face a face, quanto na interação digital e, nessas duas instâncias de produção discursiva, há potencialidades para o desencadeamento de violências simbólicas, as quais negligenciam e deslegitimam as corporeidades trans. Essa problemática é analisada por meio das Reações Sociodiscursivas (GOMES, 2017; FAIRCLOUGH, 2003) que foram produzidas delineando engajamentos, críticas, condenações e, com menor frequência, foi possível localizar discursos que aprovaram o fato da escola ter voltado atrás e “aceitado” a estudante de volta no ano seguinte. Na análise dessas reações, embasamo-nos nos pressupostos teórico metodológicos da Análise Crítica do Discurso (ADC) de Norman Fairclough (1992,1999,2003) e nas teorias sociais que dialogam, de forma transdisciplinar, com os atravessamentos temáticos da notícia. Desse modo, a pesquisa contará, principalmente, com reflexões sobre gênero e sexualidade desenvolvidas por (BUTLER, 1990, 1993, 1999) e com outras leituras que partem das pesquisas butlerianas como: (BENTO, 2017; LOURO, 2000; SALIH, 2017). |