Resumo |
Introdução: Helicobacter pylori é um bastonete gram negativo que causa infecção da mucosa gástrica e está associado ao desenvolvimento de gastrite crônica, doença ulcerosa péptica, adenocarcinoma e linfoma MALT gástrico. A infecção por essa bactéria tem prevalência média de 50% na população mundial, sendo maior em regiões com precárias condições socioeconômicas. A mais recente edição do Consenso de Maastricht recomenda o tratamento de erradicação para todos os casos diagnosticados dessa infecção, pois acarreta em redução da incidência de adenocarcinoma. O tratamento de primeira linha envolve o uso de um inibidor de bomba de prótons (IBP), associado a amoxicilina e claritromicina por 7 dias. A resistência à claritromicina vem aumentando ao longo do tempo (atualmente em 16,9%) bem como os índices de falha da erradicação. Objetivos: Analisar a efetividade dos esquemas terapêuticos em pacientes da microrregião de Viçosa, correlacionando-a com as variáveis sociodemográficas dos pacientes submetidos ao tratamento. Material e métodos: Estudo retrospectivo, baseado em análise de prontuários de pacientes atendidos em serviço de gastroenterologia entre 2007 e 2016. Foram incluídos todos os pacientes que residiam em municípios integrantes da microrregião de Viçosa, que tiveram infecção por H. pylori confirmada laboratorialmente e que realizaram exames de controle de cura após o tratamento. As variáveis sociodemográficas utilizadas foram idade, sexo, escolaridade, estado civil e naturalidade. Todas as análises estatísticas foram realizadas no software Epi Info. Resultados: foram incluídos 314 pacientes e excluídos 560, a maioria por não ter retornado após o tratamento para realizar controle de cura. Na descrição epidemiológica dos pacientes, não foi encontrada diferença com significância estatística para nenhuma das variáveis. 88,25% dos pacientes receberam o tratamento de primeira linha (IBP + A + C) e 93,94% foram tratados por 7 dias. Não foi encontrada diferença na efetividade do tratamento quando o omeprazol foi substituído por outro IBP (p = 0,892). A taxa de sucesso do esquema de primeira linha por 7 dias foi de 54,07%, significativamente menor (p < 0,001) que o descrito em revisão da literatura brasileira feita em 2015, de 80,14%. Não houve diferença estatisticamente significativa na efetividade do tratamento segundo sexo, naturalidade e estado civil. Foram fatores de proteção a escolaridade de nível superior (OR 0,45 ; p 0,04) e o aumento da idade (OR 0,92 ; p 0,036). Conclusão: Este trabalho corrobora a crescente resistência do H. pylori à claritromicina, porém apresenta as limitações de ser retrospectivo, ter sido realizado em um único serviço de saúde e não ter excluído pacientes com uso prévio recente de antimicrobianos, assim, seus resultados não podem ser extrapolados para população. São necessários mais estudos para atualizar a literatura brasileira acerca da eficácia do tratamento de erradicação de H. pylori no país. |