Resumo |
A preocupação com as substâncias lançadas nos corpos receptores através dos esgotos sanitários e os impactos que podem causar na vida aquática, tem motivado interesse na caracterização e quantificação da toxicidade de esgotos no ambiente aquático. Peixes são muito utilizados como organismos-teste para tal finalidade, uma vez que ocupam o topo da cadeia trófica no ambiente aquático. Devido à luta contra a utilização de animais em testes que possam causar dor/morte, têm sido desenvolvidos métodos alternativos de avaliação que utilizam embriões e fases larvais de peixes, que não são considerados animais por não se alimentarem de forma exógena. O presente trabalho foi realizado para implementar ensaios alternativos com o peixe Danio rerio (paulistinha), no Laboratório de Engenharia Sanitária e Ambiental (Lesa). Como soluções-teste foram utilizadas amostras de esgoto bruto coletadas no município de Viçosa e de esgoto tratado em reatores de bancada no Lesa. Danio rerio é um peixe modelo para ensaios de toxicidade uma vez que tem DNA similar ao do homem (70% de compatibilidade), possui ótima correlação entre as fases larval e adulta, exibe fases embrionárias fáceis de distinguir e apresenta grande desova em cada ciclo de reprodução. Machos e fêmeas de D. rerio foram mantidos separados em aquários com água livre de cloro, a temperatura de 24 a 28 °C, pH 7 a 8, sob aeração constante e fotoperíodo de 12h claro/12h escuro, na sala Aquatox do Lesa. A reprodução ocorria colocando dois machos e uma fêmea em um mesmo aquário e resultou em uma média de 600 ovos viáveis por desova. Uma parte dos ovos foi utilizada no teste de toxicidade aguda (FET-Fish Embryo Acute Toxicity), da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2013). Outra parte foi deixada para eclodir e as larvas utilizadas no teste de toxicidade crônica de curta duração (NBR 15499, ABNT, 2016). Além disso, foram realizados ensaios de toxicidade crônica com o microcrustáceo Ceriodaphnia dubia (NBR 13373, ABNT, 2017) para fins de comparação. Após exposição de ovos ou larvas a diferentes concentrações do esgoto, pelo período especificado em cada teste, os índices de toxicidade foram calculados utilizando o programa CETIS (Tidepool, EUA). O esgoto bruto apresentou toxicidade aguda (teste FET), com CL50, concentração letal mediana, igual a 55,4% e intervalo de confiança (IC95) de 47,3-65,0%, enquanto o esgoto tratado apresentou CL50 = 74,9% (IC95: 68,7-81,7%). Para o teste crônico com larvas de D. rerio, o valor crônico estimado (VCest), foi 0,048%. Para C. dubia, o esgoto bruto teve efeito agudo, com CL50 = 70,7%, e efeito crônico, sendo a concentração de inibição da reprodução (CI25) igual a 29,8%. O esgoto tratado não apresentou efeito agudo a C. dubia, mas apresentou efeito crônico, com CI25 = 55,3%. Os resultados demonstram a toxicidade dos esgotos e o perigo do lançamento do esgoto sanitário bruto da cidade de Viçosa-MG para a fauna aquática e, potencialmente, a saúde pública. |