Resumo |
A ingestão acidental de objetos metálicos e pontiagudos pode causar diversas complicações para o ruminante por meio da perfuração do retículo e possibilidade de atingir órgãos importantes. A mais grave delas é a reticulopericardite traumática, doença que faz parte de um complexo denominado “síndrome por corpo estranho no retículo”. Nessa doença o objeto se aloja no retículo e, num momento indeterminado, causa sua perfuração e atinge o pericárdio, causando sua inflamação. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de reticulopericardite traumática em bovino. Foi atendida em 14/09/2017, uma vaca denominada Joaninha, de propriedade do do Setor de Clínica e Cirurgia de Grandes Animais do DVT/UFV, com história de apatia, perda de apetite e isolamento dos outros animais. Essa vaca, mestiça holandesa, 17 anos, pesando 418 kg e gestante, pertencia ao rebanho de animais para aulas práticas de veterinária e estava em tratamento para broncopneumonia há uma semana, porém sem resolução satisfatória, e por isso foi reconduzida a uma nova investigação clínica. Nesse novo exame, observou-se intensa apatia, abdução dos membros anteriores, jugulares ingurgitadas e aumento de volume na região peitoral, sendo suspeitado de insuficiência cardíaca. Ao exame específico constatou-se edema congestivo, taquicardia acentuada, sem disritimia mas com suspeita de líquido pericárdico, pulso jugular e ferroscopia significativamente positiva na região do esterno, além dos sinais de broncopneumonia, somados agora com pleuresia, sons indicativos de hidrotórax, e ainda melena, febre e relutância em se locomover. A análise final de todos esses achados indicou a reticulopericardite traumática, com intenso envolvimento pulmonar, como sendo a causa principal do quadro clínico. Não há tratamento curativo para tal doença, mas sendo a vaca de grande estima dos alunos foram tomadas diversas medidas de melhor conforto para ela como analgesia, diurese, oxigênio e etc. O animal morreu no dia 24 de setembro e o diagnóstico foi confirmado à necropsia, onde foram encontradas as seguintes alterações: hidrotórax, pleurite, pneumonia purulenta, saco pericárdico aumentado, pericardite fibrinosa e finalmente um fio metálico rígido e pontiagudo, de 6cm, penetrando o pericárdio, com sinais de seu trajeto desde o retículo. Para o veterinário de animais de produção o principal aspecto desse caso é que não há tratamento e portanto a prevenção deve ser o foco principal, evitando que haja contaminantes metálicos no alimento e impedindo que perfurem o retículo. Ainda não é difundido no Brasil, mas em vários países utilizam-se ímãs em vagões forrageiros para conter esses objetos antes que caiam nos comedouros e também se administram magnetos (ìmã) para que se alojem no retículo e atraiam esses objetos para si, evitando a perfuração. Nesses países é inadmissível e inexplicável que o veterinário perca uma vaca por “síndrome por corpo estranho no retìculo” sem ter sido recomendado o uso desses magnetos. |