Resumo |
INTRODUÇÃO: habitar a rua constitui um fenômeno social que deflagra um problema de saúde pública global. A população em situação de rua (PSR) submete-se cotidianamente a uma condição de vulneração, sendo comumente destituída dos direitos sociais básicos, como moradia, saúde, educação, lazer, trabalho, segurança, entre outros. Esse fato dá-se devido não apenas à escassa ou ausente formação e experiência dos profissionais de saúde e serviços para abordar e acolher pessoas em situação de rua, como também às fragilidades das redes de atenção à saúde voltadas para essa população. Dentro desse contexto insere-se a Enfermagem, que deve compreender as necessidades dessa população, de modo a atendê-las considerando as suas particularidades. OBJETIVOS: compreender as necessidades e expectativas de cuidado emergidas por pessoas que vivem em situação de rua. METODOLOGIA: estudo qualitativo realizado com oito pessoas em situação de rua de um município de Minas Gerais. Os dados foram coletados por meio de entrevista com questões abertas entre setembro de 2016 a junho de 2017 e analisados a partir da técnica de Análise de Conteúdo de Bardin. O presente estudo parecer favorável do Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa, inscrito sob o n.1.668.56. RESULTADOS: a análise dos resultados permitiu a emersão de três categorias temáticas: Necessidades em Saúde da pessoa em situação de rua; A produção do cuidado na rua e Expectativas de cuidado na rua. A primeira categoria consistiu nas necessidades humana básicas, tais como: segurança, obtenção de alimentação e local adequado para sono, repouso e realização das eliminações, bem como acesso aos serviços de saúde. A segunda categoria, traz que a produção do cuidado no contexto da rua ocorre a partir de redes de apoio tecidas pela PSR, considerando as necessidades físico-biológicas, espirituais e afetivo-sociais oriundas desse contexto. Na última categoria identificaram-se expectativas de uma saúde melhor na realidade que vivem, centradas nas peculiaridades da PSR bem como de um suporte na rede voltado para o tratamento aos vícios de álcool e drogas. CONCLUSÕES: a PSR guarda peculiaridades que requerem uma escuta qualificada do enfermeiro/equipe de enfermagem, ferramenta importante para a produção de uma relação de cuidado dotada de reciprocidade, sentido e incorporação dos saberes e práticas dos sujeitos envolvidos. Espera-se desse modo que o cuidado à pessoa em situação de rua não seja somente uma prática que responda às suas necessidades de saúde, mas que se institua, em ato, como uma ação política, transformadora e dotada de senso de justiça social. |