Resumo |
A febre amarela (FA) é uma doença viral aguda, não contagiosa, que se mantém endêmica e enzoótica nas regiões tropicais da África e das Américas do Sul e Central. Acomete treze países no continente americano: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Trindade Tobago e Venezuela. O número anual de casos da doença sofre grandes oscilações ao longo dos anos, com vários surtos descritos. No Brasil o último surto iniciou-se em 2016, deflagrando várias mortes. Devido à irregularidade do número de casos e óbitos, ao longo dos anos, objetivou-se calcular a taxa de letalidade (TL) da FA no Brasil e analisar a variação da TL nos períodos com e sem surtos. Para tanto, procedeu-se a busca - de dados públicos - a partir de boletins epidemiológicos, notas informativas e documentos oficiais, do número de casos e óbitos, ocorridos entre 1980 e 2017, disponíveis nas fontes do Ministério da Saúde e da Pan American Health Organization (PAHO), entidades ligadas à Organização Mundial de Saúde. O cálculo da TL foi feito através da divisão do número total de óbitos por FA, pelo número total de casos confirmados por FA, ao longo de um ano. O resultado foi multiplicado por 100, para que os dados fossem expressos em percentagem. A partir dos dados calculados da TL foi construído um gráfico que mostra grandes oscilações dos valores ao longo do período de estudo. A queda na TL coincide com os picos de casos ou momentos de surto e quando há poucos casos ocorre aumento da TL. Isso pode ser explicado pela FA não ser um diagnóstico diferencial comumente proposto em pacientes com quadros clínicos de febre e icterícia, em momentos fora do surto de FA, retardando o diagnóstico e tratamento da doença e aumentando o número de óbitos, em relação ao número de casos; consequentemente, há incremento da TL. Comparando momentos de surtos, distintos, observa-se grande semelhança na TL, sendo no surto de 2003 a TL de 33,87% e no de 2017 33,72 %. No entanto, no surto de 2017, a TL foi maior nos estados com baixo número de casos (Goiás, Mato Grosso, Pará e Tocantins), devido - possivelmente - ao diagnóstico tardio. No panorama das Américas, entre os anos de 1960 até o ano de 2015 o número de casos confirmados no Brasil foi de 1150, contabilizando-se 407 óbitos. Nas Américas Central e do Sul, os países endêmicos juntos, no mesmo período, registraram 6873 casos e 2480 óbitos, com uma TL média de 36,08%. O Brasil participou com 16,73 % dos casos e 16,41% dos óbitos no continente, com uma TL média, para o período, de 35,39%. Conclui-se que é necessário manter uma vigilância epidemiológica constante; e mesmo em momentos fora de surtos, incluir a FA como diagnóstico diferencial, a fim de obter rápido diagnóstico e reduzir a TL para níveis semelhantes àqueles observados nos momentos de surto. |