Resumo |
Este trabalho tem como objetivo a compreensão e análise dos movimentos antigênero no Brasil, conhecidos como movimentos contra a chamada “ideologia de gênero”. Assim, interessa perceber quais os atores, argumentos e marcos cronológicos dos debates travados em torno do conceito de gênero e como o fenômeno se relaciona com os avanços nos direitos alcançados por grupos minoritários, como mulheres e população LGBTs. A fim de realizar o objetivo inicial da pesquisa traçamos, com base na revisão bibliográfica de publicações sobre o tema, os principais eventos sobre o assunto no Brasil, América Latina e demais países onde as manifestações antigênero se propagaram. Deste modo, foi possível delinear os marcos temporais mais importantes destes eventos, abrangendo sua chegada no país. Além disso, realizou-se o levantamento dos discursos dos deputados na Câmara baixa brasileira, no período de 2000 a 2017, relacionados ao tema. Para tanto, buscou-se palavras–chave “ideologia de gênero”, "descriminalização do aborto" e "homossexualismo"(optamos por usar o termo tal como ele aparece nos discursos). No total foram obtidos 337 discursos que foram analisados quantitativa e qualitativamente, com auxílio do software IRAMUTEQ. Foram realizados ainda: 1) Levantamentos das Audiências Públicas da Câmara e do STF que versassem sobre estes temas; 2) Pesquisa na Plataforma Google Trends, com o intuito de averiguar a repercussão sobre o assunto e análise dos momentos de crescimento e decidas exponenciais nas pesquisas sobre “ideologia de gênero” no Google. Como resultados preliminares da pesquisa verificou-se que o uso do termo “ideologia de gênero” emergiu em discursos e conferências episcopais, entre meados da década de 1990 e no início dos anos 2000. Apareceu pela primeira vez no livro L’Évangile face au désordre mondial (1997) e em um documento oficial católico através da nota da Conferência Episcopal do Peru, intitulada La ideologia de género: sus peligros y alcances (1998). Foi referenciada nos discursos dos Papas Bento XVI e João Paulo II (Carta às Mulheres e Carta aos Bispos) em reação à IV Conferência Mundial das Mulheres de Beijing (1995) e à Conferência do Cairo sobre População e Desenvolvimento (1994). No Brasil, houve uma insurgência de manifestações anti-gênero durante os debates sobre os planos de educação, nos anos 2014, tendo ganhado força também quando associada ao projeto de lei Escola sem Partido. |