Resumo |
Estudos sobre a interação entre moléculas fotoativas e proteínas têm atraído grande interesse no campo da química, biologia e medicina. O azul de metileno é um agente fenotiazínico fotossensibilizador eficaz, que possui uma diversidade de fins terapêuticos tais como: efeito foto-quimioterápico, antimalárico e utilizado no diagnóstico de doenças degenerativas. No entanto, todas essas propriedades funcionais associadas a esses corantes podem ser moduladas e/ou intensificadas com base em suas interações com proteínas, dentre elas a lactoferrina. Parâmetros termodinâmicos e cinéticos da interação Lactoferrina-Azul de Metileno descrevem a energética e a dinâmica deste processo associativo. Neste trabalho, a interação do Azul de Metileno (AM) com a Lactoferrina Bovina (BLF) foi investigada pelas técnicas de Escpectroscopia de Fluorescência (EF) e Ressonância Plasmônica de Superfície (RPS). Para os experimentos de fluorescência, uma solução de AM (250 μM) foi titulada numa faixa de 0 a 67,82 µM em uma solução de BLF (20 μM) ambas preparadas em pH 7,4. Os espectros de fluorescência foram obtidos para uma faixa de temperaturas de 283-323 K, nos comprimentos de onda entre 296 e 500 nm, com o fluoróforo excitado em 295 nm. Para a obtenção dos parâmetros cinéticos, foi utilizada a RPS. Os experimentos BLF-AM foram realizados numa faixa de temperaturas de 284 a 298 K. Inicialmente, imobilizou-se a BLF em um sensor chip CM5 e em seguida soluções de AM de diferentes concentrações (2-13 µM), em tampão 7,4, foram injetadas no sistema de fluxo para detectar a interação. No final das injeções das soluções de corante, a solução tampão foi injetada para que o sinal de resposta do equipamento retornasse à linha base. O AM liga-se à LF formando um complexo 1:1, onde Kb é da ordem de 104 M-1. Dados de EF e RPS indicaram que a formação do complexo BLF-AM é entropicamente dirigida (TΔS° = 32,97 ± 0,10 kJ mol-1), entalpicamente desfavorável (ΔH° = 5,72 ± 0,01 kJ mol-1) e o equilíbrio químico favorece a formação do complexo (ΔG° = -27,25 ± 0,09 kJ mol-1). Os parâmetros termodinâmicos obtidos por RPS corroboram com os resultados de EF. Experimentos de RPS permitiram também o estudo cinético da interação BLF-AM e demonstraram que a constante cinética de dissociação (0,02 < kd < 0,04 s-1) é muito menor que a constante de associação ((5,69 < ka< 2,65)103 M-1s-1. Já o valor da energia de ativação (Eac = 33,23 ± 1,52 kJ mol-1). Esses resultados mostram que a dinâmica molecular de quebra e formação de interações intramoleculares na a proteína (BLF) e a camada de solvatação do ligante livre (AM) são diferentes quando o complexo ativado é formado a partir das espécies livres ou da dissociação do complexo termodinamicamente estável. Este estudo contribui para o entendimento das forças motrizes que dirigem a formação do complexo BLF-AM, o que gera um conhecimento fundamental sobre interações proteína-corante, possibilitando modular este tipo de sistema para possíveis aplicações. |