Resumo |
O bioma brasileiro Cerrado é considerado a savana com a maior riqueza de espécies do mundo, apresentando um elevado grau de endemismo e biodiversidade. É também um dos ‘hotspots’ para a conservação da biodiversidade mundial. Uma caraterística marcante das espécies nativas deste bioma, de grande importância e interesse econômico, é a resistência ao alumínio (Al), cuja forma potencialmente tóxica (Al3+) é encontrada em altos níveis nos solos do Cerrado. Espécies denominadas tolerantes absorvem e inativam o Al por meio, principalmente, da complexação com a parede celular e da compartimentalização em vacúolos. Entretanto, recentemente, foi descrito o acúmulo de Al também nos cloroplastos de Rudgea viburnoides (Rubiaceae), espécie nativa deste bioma. No presente trabalho, objetivou-se verificar se folhas de primeiro nó acumulariam menor quantidade de Al em relação às folhas de terceiro nó e se ocorreriam danos ultraestruturais em cloroplastos de folhas de primeiro e terceiro nós de R. viburnoides, devido ao acúmulo de Al nesta organela. Folhas de primeiro e terceiro nós de R. viburnoides foram coletadas em área de Cerrado stricto sensu, na Floresta Nacional (FLONA) de Paraopeba – MG, para quantificação e histolocalização de Al e análise ultraestrutural da folha em microscopia eletrônica de transmissão (MET). Folhas de primeiro nó acumularam 10 g Al kg-1 de matéria seca foliar (MSF) e as de terceiro, 16 g Al kg-1 MSF, concentrações consideradas tóxicas para grande parte das espécies de interesse agronômico. A absorção de Al está diretamente relacionada ao fluxo transpiratório, o que explica as maiores concentrações de Al em folhas de terceiro nó, as quais transpiraram por mais tempo. A análise histoquímica confirmou a presença de Al no interior dos cloroplastos de R. viburnoides, o que motivou a posterior análise em MET. Folhas de terceiro nó apresentaram cloroplastos com estrutura íntegra, semelhante às folhas de primeiro nó, nas quais foram verificados cloroplastos com tilacóides organizados em grana e membranas envoltórias sem danos. Porém, foi observada maior quantidade de plastoglóbulos em folhas de terceiro nó, o que pode evitar possíveis efeitos da toxidez do Al. O sequestro e isolamento do metal no interior de plastoglóbulos pode minimizar o processo oxidativo, já que tais estruturas atuam na proteção contra radicais livres. Constatou-se, portanto, que os cloroplastos de R. viburnoides não apresentaram comprometimento estrutural na presença de Al, o que confirma o alto grau de adaptação da espécie à forma tóxica deste metal. |