Resumo |
No Brasil, especialmente no período de 2001 a 2013, a ampliação do número de vagas, a interiorização dos campi universitários, as políticas de ações afirmativas e a democratização das oportunidades de acesso geraram a elevação do número de estudantes egressos de escolas públicas, pretos, pardos e indígenas e desfavorecidos socialmente nas universidades públicas. No entanto, apesar de certa inclusão na educação superior brasileira, outros processos veem se configurando como, a estratificação horizonte, analisada por Ribeiro e Schelegel (2015) e Montal’vão (2016). Esses autores indicam as mulheres, os pretos, os pardos e os indígenas, em sua maior parte, ingressaram nos cursos superiores com menor prestígio. Essa constatação indica que ainda que se eleve a participação numérica dos estudantes socialmente desfavorecidos na educação superior, a desigualdade é mantida, pois as camadas sociais que dispõem de recursos materiais e simbólicos buscam diferenças qualitativas, deslocando-se para cursos e instituições de maior prestígio. Além do processo de estratificação horizontal, quando se observa que os estudantes pobres são direcionados para as carreiras de menor prestígio, os universitários socialmente desfavorecidos enfrentam muitas dificuldades para a afiliação intelectual e institucional à universidade pública. A posse de fraco capital cultural e social e o encaminhamento para os cursos de graduação de maneira negativa, isto é, por processos de autosseleção, por exemplo, elevam as possibilidades de abandono e reprovação entre esses estudantes. Voltando-se para os casos atípicos, o objetivo desta pesquisa é conhecer, descrever e analisar os percursos acadêmicos e as experiências de mulheres que ingressaram na UFV em cursos de prestígio a partir do ano de 2016. Os dados serão gerados por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas junto a três mulheres estudantes da UFV. As noções de habitus de Pierre Bourdieu e de experiência escolar de François Dubet serão utilizadas como operatórias na realização da análise dos dados. Os estudos exploratórios indicam que o ingresso de mulheres em cursos de prestígio configura casos atípicos. As trajetórias escolares dessas mulheres são marcadas pela frequência a estabelecimentos públicos federais no ensino médio e as vivências acadêmicas na UFV pela fruição. |