Resumo |
O protagonismo das mulheres na Economia Solidária já foi tema de variadas pesquisas em muitas áreas do conhecimento, abordando, sobretudo, os diferentes significados da participação feminina em organizações coletivas e os processos de emancipação vivenciados a partir dessas experiências. Seja por meio do acesso à renda e ao trabalho, seja em função do engajamento em espaços de sociabilidade e de justiça de proximidade (GUERÍN, 2005), mulheres de diferentes partes do mundo reúnem-se para emanciparem-se juntas na construção de “outras economias” (CUNHA, 2015). Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar os sentidos da emancipação feminina e as características das "outras economias" a partir das vivências e narrativas das mulheres negras do território Quilombola de Fátima, em Ponte Nova, Minas Gerais. Os grupos Ganga Zumba e Herdeiros do Banzo vem atuando na comunidade Quilombola há trinta anos, desenvolvendo trabalhos que permeiam atividades físicas, de ensino, profissionais e artísticas. Os procedimentos metodológicos da pesquisa buscaram privilegiar a fala dessas mulheres por meio de entrevistas semiestruturadas acerca de suas trajetórias de vida. O trabalho foi devidamente aprovado pelo Comitê de Ética da UFV e foram entrevistadas cinco mulheres no período de maio a junho de 2016. Os resultados foram organizados a partir de categorias teóricas da economia solidária e emancipação feminina. Foi possível perceber que compostos em maioria por mulheres negras, os grupos refletem a participação delas na formulação de novas possibilidades de trabalho, de renda e de transformação social e comunitária. A vida das mulheres está fortemente marcada pela baixa escolaridade e pela discriminação racial. Estão marcadas pelo constante encontro com as relações patriarcais e machistas pelas quais são construídas a sociedade. E apesar de todas as dificuldades encontradas ao longo de suas trajetórias, as mulheres dos grupos estão desde muito cedo no enfrentamento e na luta para construir uma sociedade mais humana, mais sensível e mais igualitária, ainda que não tenham as dimensões e as percepções reais acerca desse enfrentamento. Compreendem a partir das relações e das transformações pessoais possibilitadas pela atuação em um grupo coletivo que são capazes de se auto transformar, de se reinventar. É a partir do trabalho coletivo que essas mulheres se empoderam, adquirem conhecimento e se transformam, tornam-se líderes de suas comunidades, e sentem orgulho por quem são, pelo trabalho que desenvolvem, pela possibilidade do reconhecimento enquanto mulher negra. Percebemos que o trabalho em grupo e a participação nesses empreendimentos solidários possibilitam a construção do saber, a valorização do saber adquirido no coletivo e para o coletivo, saber adquirido a partir da luta contra os preconceitos e as discriminações por ser negra, por ser mulher. |